Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
 E nem ao menos sei quem me cegou!
 [Florbela Espanca]



         ACREDITAR (NÃO) É UMA FORMA DE CEGUEIRA


                                                                 

          Eu tive contato com a cegueira ainda muito pequena. Assustou-me as limitações que ela impõe as pessoas e decidi: eu quero ver o mundo através de meus olhos. Prometi a mim mesma aprender tudo que fosse possível e nunca permitir que outras pessoas limitassem o meu olhar. Não sabia que nossa visão dependia de outros olhares. 

          Ainda angustia-me a cegueira provocada pela ignorância do não-saber, mas descobri uma cegueira mais angustiante, para não dizer revoltante, a cegueira desmedida em busca de poder ou aquela nascida das paixões (sejam políticas, religiosas, amorosas, nacionalistas, etc.), pessoas que, movidas por seus interesses particulares destroem sonhos coletivos, impulsionadas por suas paixões não respeitam o outro, não delimitam seus espaços e invadem a vida alheia com suas verdades.

          Não adianta usarmos óculos se não alargarmos nossa maneira de olhar o mundo, se não abrirmos o coração para sentirmos, com a alma, aquilo que captamos com o olhar. Precisamos nos livrar da cegueira que nos impede de olhar o diferente com respeito, que endurece nosso coração e não nos deixa perceber o outro como parte de nós. 

          Apesar de tudo eu ainda consigo enxergar um mundo onde cada gesto amigo, honesto, justo e cordial acorda este bicho/homem que quer continuar novo, íntegro e otimista. Pode até ser ilusão, ou cegueira, mas o que importa? Sou feliz assim, sentindo a inocência dos que amam, a cegueira dos apaixonados pela vida e, se esta cegueira me permite viver como se o amor, a paz, a bondade e o respeito nunca vão morrer, vou seguindo em minha cegueira, ignorando aqueles que não amam com medo de sofrer, não vivem com medo de morrer e, em suas cegueiras (ir) racionais não conseguem ver a beleza que é viver acreditando em seus sonhos, por mais distantes que eles pareçam. Só não quero que minha boa-fé se transforme em um tipo de cegueira tão perigosa quanto a má fé.








Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 20/07/2009
Reeditado em 20/07/2009
Código do texto: T1709343
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