Teatro poliglota
Em 1990, escrevi um texto teatral para denunciar as condições de vida das crianças e adolescentes pobres da Paraíba, como uma forma de contribuir na luta pela implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente e conselhos de defesa de nossa infância. O Coletivo Dramático de Mari – Codrama – encenou o texto, batendo um recorde no teatro amador paraibano, pelo que sei, ao manter a peça em cartaz durante sete anos corridos. A montagem mereceu um prêmio do Unicef, órgão das Nações Unidas, e foi reconhecida como espetáculo didático de alto nível pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente da Paraíba.
Depois, o Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana também montou a peça, que é uma denúncia sobre o abandono de crianças e adolescentes no Brasil e uma acusação à sociedade e poderes públicos pela situação de nossa infância, mas de forma leve e bem humorada. O público é levado a refletir sobre essas mazelas sociais, mas se divertindo com o humor escrachado da peça, que se chama “Cantiga de Ninar na Rua”.
Neste ano de 2009, recebi pedido de um grupo de alunos de língua espanhola para autorizar a montagem do texto, vertido na língua de Cervantes, que recebeu o título de “Por dejarme respirar, por dejarme existir, Dios lo pague”. A nova versão de meu trabalho deverá estreiar no dia 12 de outubro, no XII Encuentro Paraibano de Lengua Española y Culturas Hispanoamericanas.
O programa da peça já está sendo elaborado. Entre outras informações, esclarece que “el trabajo fue traducido, adaptado y escenificado del texto da pieza ‘Cantiga de Ninar na Rua’, del poeta periodista pernambucano Fábio Mozart. Os encenadores terminam informando que “es um espetáculo sencillo, pero corajoso e muy polémico”.
Segue, portanto, essa peça seu destino de servir de instrumento para desenvolver uma consciência que lute por uma nova sociedade, agora falando em espanhol. Infelizmente, após mais de vinte anos da fala do Presidente Collor de Mello, que anunciou à nação a prioridade para as crianças e adolescentes, em nossas ruas ainda permanecem milhões de crianças entre 10 e 17 anos sobrevivendo de esmolas, biscates ou furtos. A criança tem direitos só no papel.
Sempre entendi a arte como um fato social. Meu teatro denuncia as mazelas da nossa sociedade, colaborando de alguma forma na luta por um Brasil melhor, mais justo e fraterno. Sem panfletarismo.