Música na Capela

Da capela moderna, completamente envidraçada, ao lado do Palácio Boa Vista, que lembra um castelinho medieval, podia se ver toda a paisagem que ali do alto se descortinava: um vale cercado de morros verdejantes. Bem aquecidos lá dentro,nos sentamos para ouvir o concerto. Música de câmara. Era uma das programações do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, que agora em 2009 celebra o Ano França no Brasil.

Sonata em dó maior para violino e violoncelo de Maurice Ravel; Pastorales de Noël, de André Jolivet em flauta, fagote e harpa; Sonata para clarinete e piano, de Camille Sans-Saëns; Trio para oboé, fagote e piano de Francis Poulenc e Recitativo e Improviso – clarinete e piano – de Marcel Dautremer me enlevaram de tal modo naquele mundo dos sons que me senti como se estivesse flutuando para além das vidraças rumo ao céu avermelhado do pôr-do-sol. Não faltou Astor Piazzola em História do Tango, com violino, violão e contrabaixo. Tangos sempre mexeram comigo, mas naquele lugar sagrado, interpretados por músicos de primeiríssima grandeza, ganharam uma outra dimensão.

No caminho de volta pra casa, descendo a serra, vim pensando na maravilhosa capacidade de criação dos compositores de música clássica. Como será “ouvir” tudo aquilo dentro da cabeça, imaginar nota por nota, transformá-las em acordes, ora de um instrumento, ora de outro?...Ir combinando tudo com tanta sintonia?... E se for de uma orquestra, então?...

Na próxima semana voltarei para ouvir a Orquestra dos Bolsistas, desta vez no Auditório Cláudio Santoro, outro lugar de rara beleza, em meio à natureza, que nos faz sentir num mundo quase irreal.