JOGANDO CAXANGÁ

Numa das edições da revista “Superinteressante” há um comentário sobre uma brincadeira que fazíamos quando jovens: o caxangá. Formava-se um círculo de pessoas ao redor de uma mesa, cada qual com uma pedrinha na mão, que iam passando (a pedrinha, lógico, não a mão) para o companheiro ao lado, enquanto cantavam uma musiquinha: “Escravos de Jó jogavam caxangá/ tira, bota, deixa o Zé-Pereira ficar/guerreiros com guerreiros fazem zigueziguezá”. As pedrinhas circulavam num eterno retorno.

E por que somente os escravos de Jó jogavam caxangá? Porque o caxangá era considerado jogo de azar (azar dos escravos, que o jogavam durante o expediente e, se flagrados, iam para o tronco, levar chibatadas). O governo havia mandado fechar todas as casas de caxangá. Mas o Jó, que era um justo, os deixava jogar durante a hora do lanche. Agora, o que fazia naquele contexto o Zé-Pereira, personagem do carnaval brasileiro, nascido muitos e muitos séculos depois de Jó?

Isso faz lembrar os versos ou ditos de outras brincadeiras infantis, que nunca nos detivemos a analisar. Por exemplo: bento que bento frade...O tal de bento seria um antropônimo (nome de pessoa) ou o particípio do verbo benzer, equivalente a benzido? E por que estaria o dito frade na boca do forno, tirando um bolo? Não seria mais coerente se o Bento fosse um padeiro?

E aquele: enganar o bobo na casca do ovo. O que teria a ver a casca do ovo com o ato de ludibriar algum otário? Só se fosse apenas para rimar com bobo, mesmo assim a rima não ficou muito boa.

Outro dito a que muito se recorria na infância era “unidunitê”, usado para se escolher a “vítima” que iria procurar os colegas, nas brincadeiras de esconde-esconde. Certamente, seria uma corruptela de um-dois-três; mas o que vinha a seguir era completamente es-tranho: salamê-mingüê. Seria uma palavra mágica, uma fórmula cabalística? Teria alguma coisa a ver com salame?

Voltando ao título da crônica, o caxangá (que diabos significava caxangá?) era uma brincadeira de salão, ou de salinha, como queiram; não era machista, podiam dela participar meninos e meninas e a musiquinha era agradável. Agora, cá entre nós, e os tais guerreiros que faziam “zigueziguezá” uns com os outros? Não me atrevo a imaginar o que seria isso.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 19/07/2009
Reeditado em 15/07/2011
Código do texto: T1708318
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