A VITÓRIA DO VILÃO

O cinema americano, principalmente, tem incutido em várias gerações dois grandes mitos: o de que os protagonistas de qualquer filme têm de ser jovens e bonitos e o de que os vilões são sempre castigados no final (quem me explica por que o vilão, morador de uma vila, tornou-se sinônimo de bandido, de mau elemento?).

É, leitor, “véio” não pode ser mocinho. Imagine em minha juventude um bangue-bangue em que o valente caubói fosse um elemento da terceira idade ou que o bandidão saísse lépido e fagueiro ao final do filme, curtindo sua fortuna conseguida ilicitamente. No mínimo, no mínimo, o pessoalzinho iria destruir as poltronas do cinema. Afinal de contas, ninguém ia ao cinema para ver romance entre dois macróbios (eu disse macróbios) ou ver triunfarem as nulidades, digo as maldades.

Quem sabe esse preconceito com os pobres vilões, mesmo sendo imposto por um duro Código de Ética que vigorou nos anos 50 e 60, tenha tido efeitos positivos no caráter de muita gente. Estava em nosso inconsciente o velho jargão “o crime não compensa”. Quem gostaria de seguir o mau exemplo dos antipáticos malfeitores?

Os vilões de hoje (bandidos, traficantes, políticos corruptos, empresários mal intencionados e outros), se chegaram a assistir aos velhos filmes, não assimilaram seu conteúdo moralizante ou não acreditaram no adágio de que o bem sempre vence. Certamente, para cada bandalheira descoberta e punida (ó ingênuo cronista, você disse punida?) existem centenas de outras que nunca chegarão ao nosso conhecimento. É a vitória dos vilões.

Mas quem é o mocinho hoje em dia? É o político que denuncia um esquema de fraudes e corrupções, apenas para amenizar sua responsabilidade em outras atividades semelhantes? É o empresário que pratica a tal da filantropia, com um olho no fisco e outro na mídia? É o atleta que some do país tão logo receba uma bela oferta do exterior, enchendo os bolsos de euros? É o artista de novela, romântico e bom caráter, que na vida real agride fotógrafos e seguranças?

Hoje, leitor, é preciso reabilitar os velhos vilões. Dr. Silvana, Capitão Gancho, Coringa, Irmãos Metralha... Eles sim foram cobaias. Os vilões sofreram nas mãos dos mocinhos, mas, com perseverança, conseguiram finalmente triunfar e tornar-se uma classe vitoriosa.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 19/07/2009
Código do texto: T1708307
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