ATO VII: A CURA
O Auto da Piedade
Sete Atos de Loucura
Minha garganta doía de tanto engolir remédio. No hospital, contra a minha vontade, fui medicado, sedado, lavado e enviado para outro lugar que eu não sabia bem se era outro hospital ou prédio abandonado.
Alguns homens de branco carregavam meus braços, sem que eu conseguisse tocar o chão com meus pés. Fui levitado pelo corredor, até ser jogado e amarrado em uma cama, num quarto, onde eu não conseguia mais mexer o corpo, e sentia que o alazão preto não mais corria, agora mal se movia.
Até a minha alma era pura lentidão.
Doía pensar
Doía ser
Tornei-me algo que nem era uma planta
Pois uma planta, ainda assim, faz fotossíntese
Clorofila
Eu era tudo
Menos vida
Sem reação
Sem querer
Continuar
A ser
Os dias eram anos
A barba crescia
Os pelos no corpo lembravam um primata
Não o louco
Que é humano
Que se expressa
E vive
E usa a loucura como linguagem
Como símbolo;
Eu já não usava palavras
Apenas sons guturais
Alienava
Senti que a minha mente era comprimida
Esmagada,
Dia após dia,
Até que perdi a batalha
Eu já não era mais nada
Que valesse atenção ou preconceito,
Nem mesmo repulsa
Foi-se o corpo
Lavou-se da alma
Daí, sonhei novamente
Com a flor de outros sonhos
E agora
Eu tinha
Todo o tempo do mundo
Para terminar
De criá-la
...