MORTE EM STOCKWELL
A Scotland Yard recebeu denúncias acerca de um homem de Tulse Hill.
Desconfiavam ser tal homem o militante islâmico Osman Hussein, que estaria planejando ataques contra a rede de transporte de Londres.
Agentes da brigada antiterrorista foram designados para o local, instruídos de vigiar, prender ou, se fosse preciso, abater esse homem.
Na manhã agradável de sexta feira, de sol brilhando nas plantas e pássaros cantando alegremente nas árvores do jardim do Palácio de Buckingham, Jean abriu a porta de seu prédio em Tulse Hill. Olhou desconfiado para os lados e saiu para a rua. Sentia um desconforto na boca do estômago. Nada de cólicas, mas algo que brotava da sensação de que alguma coisa ruim iria acontecer. Ontem à noite, ao regressar de Westminster, aonde fora fazer reparos na rede elétrica de uma residência, uma coruja passou rasante a sua frente e soltou um piado longo e agudo. No Brasil, quando isso acontecia, os mais velhos diziam que era sinal de morte. Quantas vezes não ouvira isso na pequenina Gonzaga, a sua cidade natal, encravada na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais!
O relógio da Torre do Big Ben marcava oito horas quando ele entrou no ônibus 26 rumo à estação de Stockwell, onde pegaria o metrô para o trabalho, como costumava fazer todos os dias, há cinco anos, a mochila vermelha às costas. Mais uma vez o desconforto e a nítida impressão de que olhos invisíveis o espreitavam de algum ponto.
Desceu do ônibus e entrou com rapidez em Stockwell, olhando a todo o momento para trás, para ver se notava algo estranho e ameaçador. Viu sete homens metidos em ternos beges atrás de si. Um deles apontou em sua direção e gritou: “Please, Sir”. Ele se assustou e entrou correndo no vagão, sendo seguido por tais homens.
Os agentes da Scotland Yard não tiveram dúvidas de que aquele sujeito de roupas e comportamentos estranhos fosse mesmo Osman Hussein. Os explosivos estariam na mochila? Teriam que agir imediatamente, para impedir uma grande catástrofe: uma porção de gente morta e destruição por toda parte. As armas em punho, entraram correndo no vagão, atrás do terrorista. Viram-no escorregar e cair logo adiante, no pequeno corredor. E antes que ele pudesse detonar a bomba escondida na mochila, alcançaram-no e alvejaram-no, à queima-roupa, com sete tiros na cabeça. O corpo ficou inerte, dentro de uma poça de sangue, até ser removido para o IML.
Na mochila de Jean, os policiais britânicos encontraram apenas uma agenda, com anotações de trabalho, fotografias de Jean tiradas na última visita aos pais em Gonzaga, uma caneta azul, um MP3 com fones de ouvido, um pequeno celular e um exemplar amarelado de “Death Comes as the End”, de Agatha Christie: entenderam, naquele momento, que haviam cometido um erro gigantesco e imperdoável, que lhes custaria muito caro...