Da Pátria: Seleção brasileira e Congresso Nacional.
Nós, brasileiros, somos um povo essencialmente apaixonado, quente, emocionado. Basta lembrar a euforia que toma conta de cada um de nós, mesmo aqueles que não gostam de futebol. Sim... Há quem não goste de futebol, mas fique inegavelmente inebriado com a atmosfera que nos circunda em épocas de grandes jogos, especialmente na Copa do Mundo.
Bandeiras verde-amarelo envolvem corpos como se fossem mantos, recobrem os automóveis (outra paixão nacional) como se tivessem sido para eles talhadas, veem-se penduradas nas sacadas, nos óbvios mastros, no improvável topo de um monte.
Enfim, o Brasil se veste de verde e amarelo e há até quem se arrisque a entoar o Hino Nacional, e é acompanhado por um coro orgulhoso. Bato no peito e afirmo: eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!
E as mãos se grudam num gesto de quem busca a força um do outro, nos momentos mais decisivos da partida; e os jogadores passam a carregar em seus pés o coração de cada um de nós. E as cornetas barulhentas são pacificamente toleradas, o buzinaço é ansiosamente esperado. O combustível que se economizou a semana inteira indo para o trabalho de ônibus é queimado com orgulho para acompanhar as centenas de carros (vestidos de verde amarelo) que circulam pelas rotas de comemoração do êxito dessa pátria de chuteiras.
Esse é o Brasil da paixão.
Mas, é curioso observar o contraponto entre o brasileiro-futebol e o brasileiro-política. Quem se envolve num manto verde amarelo para ir às urnas?
O povo, a grande massa, aquele que trabalha de segunda a sábado para defender o alimento, a roupa, os estudos da família, este não é um ser político. Seres políticos são os parentes e amigos dos candidatos que se revestem não de verde e amarelo, mas de uma simpatia, persistência e consciência nacional que não se percebe fora do período eleitoral e que se aproxima da grande massa oferecendo dias melhores na pessoa de um conhecido.
Ora, a maioria de nós brasileiros é um técnico de futebol, que arrisca palpites sobre a escalação para a Seleção, que opina sobre o meio campo, as laterais e, principalmente, sobre a defesa. Mas, quando o assunto é a crise que se descobriu no Senado, normalmente nos esquivamos com um não-quero-nem-saber ou estou-cheio-desse-assunto!
Podemos discutir a escalação da seleção mas, quando conseguimos discutir a escalação no Congresso, somos atrelados à pecha de anti-democráticos como quis definir o senador mato-grossense denunciando a “campanha midiática contra a democracia”, que, no seu entender, quer apenas acabar com a imagem do Senado.
Caríssimos, é impossível extinguir o que já não existe, é impossível tirar a moral do que já não a tem, é impossível desarrumar o que nunca teve rumo.
Não quero terminar esse texto dizendo: “precisamos encontrar uma forma de transferir a paixão e o envolvimento pessoal que temos no futebol para a política”! Isso parece receita de bolo. E as coisas não são assim. Até porque, após concordarmos ou não com as palavras de condão crítico, inevitavelmente mergulhamos em nosso cotidiano, voltamo-nos para nossos problemas e deixamos de lado toda essa sujeira.
Podemos então entoar o Hino Nacional nas épocas de eleições, quem sabe? Ou não chamar de louco quem se aventure a fazê-lo. Porque o som que apaixona os corações do futebol pode ser o mesmo que abre a consciência em épocas de urnas.
E erguemos a clava forte da justiça, justiça essa que precisa estar purificada das influências que ali não deveriam estar. Judiciário que julga, Executivo que executa e legislativo que legisla, sem as malditas pautas trancadas. Será sonho querer o óbvio?
Dentre outras mil, és tu Brasil, Pátria amada. Amada principalmente por Deus que livrou-nos dos vulcões, furacões e outros devastadores eventos da natureza pelo simples fato de que nós criamos nossas próprias turbulências, nossos furacões, nossos terremotos.