NA ROÇA - III

 

   Tinha duas opções para passar o tempo enquanto não chegava a hora do almoço. Uma delas seria andar a cavalo e a outra , pescar. É claro que decidi fazer as duas coisas.

   Primeiro daria uma rápida volta pelos arredores e depois ficaria sentado algum tempo na beira do riacho, quem sabe dando banho nas iscas, quem sabe, pescando algum peixinho.

  Conheço muito pouco sobre cavalos. Para falar a verdade só sei que eles têm quatro patas, focinho, olhos grandes e uma cauda comprida.

   Sei perfeitamente que isso não seria suficiente para me tornar um exímio cavaleiro mas, com a ajuda de um dos empregados do sitio, consegui montar uma égua que diziam ser a mais mansa da região.

    Engraçado como a gente se sente pequeno no lombo de um animal forte e belo como aquele. Pêlos escuros bem brilhosos e uma crina bem tratada a égua era realmente mansa, só que era ela que me conduzia e não o contrario.

   Lembro-me de que quando era criança adorava assistir filmes de faroeste e ficava encantado com os caubóis que subiam, desciam e galopavam em lindos cavalos com a maior facilidade.

   Não  sei dizer se eram cavalos artistas mas a verdade é que não me lembro de ter visto nenhum deles que fosse nem um pouco desobediente quer dizer, os cavalos dos filmes iam aonde os donos mandavam ou conduziam .

   Ali, no caso era eu e o animal sendo que eu gostaria de seguir por um lado mas ela , com absoluta vontade própria me levava para outro completamente diferente. Achei melhor não discutir e me deixei levar.

    Fomos nos embrenhando no mato, passando por arbustos que de vez em quando me arranhavam quando subitamente ela empacou diante de uma espécie de descampado onde podíamos ver que o rio formava uma pequena lagoa de águas cristalinas.

    Desci da minha montaria com todo cuidado , peguei o cabresto (acho que o nome é esse) e o amarrei numa árvore, assim como os caubóis do faroeste faziam. O que estava vendo me deixara incrivelmente fascinado.

   Uma pequena lagoa com águas transparentes, pedrinhas redondas e brilhantes que faiscavam com os raios do sol e aqueles peixes que nadavam sem nenhuma preocupação e com certeza ignorando completamente minha presença.

    Perdi a noção do tempo. Sentia uma fantástica sensação de paz ao me deliciar com aquela magnifica cena. Que obra prima do Criador !

   Ficaria ali naquele lugar mágico ainda por muito mais tempo se não sentisse, por uns rápidos instantes um discreto ronco na minha barriga. Eu estava com um apetite inacreditável e , pela posição do sol no firmamento eu acreditava que já estava na hora do almoço .

  Montei novamente e minha montaria retornou ao ponto de origem pelo mesmo caminho que tínhamos vindo. Desta vez, não me opus a que o animal me conduzisse.

   Ao nos aproximarmos da casa principal pude sentir o cheirinho gostoso daquela maravilhosa comida, preparada caprichadamente num enorme fogão à lenha.

   Desmontei e me dirigi ao banheiro para lavar o rosto e as mãos. Antes de entrar na casa olhei para trás e tive a sensação de que aquele animal, que não era tão irracional assim, continuava parado no mesmo lugar e parecia estar rindo, como estivesse zombando das minhas qualidades como cavaleiro. Bobagem, era minha imaginação pois afinal eu estava morto de fome.

   Quando entrei na sala de refeições não pude conter um grito de surpresa. A mesa estava linda, bem arrumada, com as tradicionais jarras de licor, de suco e do pote de pimenta da terra.

   As pessoas conversavam animadamente e todos olhavam hipnotizados para o prato principal, exposto no centro da mesa como se estivesse no meio de um palco fortemente iluminado por potentes holofotes.

   Agradeci aos céus por não ter nenhuma preocupação com dietas e fui direto para meu lugar. Os pratos, cuidadosamente arrumados e as travessas com as comidas estavam apetitosas, tentadoras e convidativas.

   Havia uma linda cesta com rodelas de pão caseiro, goiabas e bananas douradas . O cardápio daquele almoço era leitão assado, arroz com micro pedaços de carne seca, feijão mulatinho com farinha de milho, torresmos, linguiça de porco cortada em rodelas bem fininhas , salada de tomates e lindas folhas de alface.

   Agradeci novamente aos céus por não ter nenhuma preocupação com dietas. E como era costume tradicional para abrir o apetite, que já estava aberto há muito tempo, um pequeno cálice da pinguinha que tinha acabado de chegar direto do alambique. Simplesmente irresistível.....


                               .....continua.....


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WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 19/07/2009
Reeditado em 16/02/2013
Código do texto: T1707433
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