Texto de um amor para recordar.

Texto de um amor para recordar.

Alexandre Menezes

Recordo o lindo sorriso da garota que tinha como passatempo predileto me rejeitar todas às vezes em que eu a abordava na escola: foram incontáveis foras. Não é que ela me esnobava – pior que fazia isso mesmo – creio que tinha sua atenção só porque adorava sorrir com as besteiras que eu fazia questão de falar perante nossos amigos e amigas que não entendiam as insistentes e mal sucedidas investidas. Eu adorava tudo aquilo. Ela, fascinada, apenas preferia viver as novidades que o mundo lhe oferecia. Nunca a culpei, aquele lindo sorriso justificava tudo.

Morávamos bem próximos e quase nunca nos encontrávamos no caminho da escola ou de volta para casa. Garotas como ela sempre tinham vários rapazes mais velhos disponíveis para conduzi-las de carro e assim foram seus dias durante os três anos do ensino médio. Lembro do seu olhar ao cruzar o seu caminho certa vez que o carro de um dos seus namorados quebrou próximo à escola. Mais impagável que a expressão daquele momento, foi a de quando ofereci, no intervalo da escola, que fosse embora sentada no quadro da minha bicicleta mas que precisaria ser empurrada por ela na ladeira para não forçar o meu câmbio Shimano. Ela sequer respondeu. Suas amigas foram ao delírio de tanto rir. Eu ria junto, não me importava, na realidade, me divertia.

Com o tempo ficamos quase amigos e algumas vezes ela me seguia na saída para ir embora ao meu lado e dispensava suas habituais caronas. Diferente do que ocorria nos corredores ou pátio, fazia o caminho até a sua casa com relatos sobre filmes, explicando maneiras de fabricar bombas, discutindo sobre livros, cantando algumas músicas, mas nunca me comportava da mesma maneira da escola: parecia outra pessoa. Na frente da sua casa, despedia-me na calçada sem ao menos um abraço e seguia chutando pedras como sempre fazia. Ela ficava ao portão até que eu desaparecesse na esquina.

Pena que na vida real não é igual à comédia colegial americana que no baile de formatura tudo dá certo. No nosso, lembro dos seus olhos tristes que ficavam voltados para a mesa em que estava minha família ou que me seguiam para onde quer que eu fosse. Daqueles lindos olhos verdes brotavam lágrimas enquanto eu estava aos beijos com algumas das suas amigas ou desconhecidas. Coisa já normal nos adolescentes dos anos 90. Na realidade, nem sei se era por isso que chorava. Nunca perguntei e não me preocupei naquele dia.

O destino é engraçado. Começamos a faculdade juntos na mesma universidade só que em campus diferentes. Questões administrativas uniram nossas unidades e lá estávamos outra vez freqüentando os mesmos corredores. Ao vê-la pela primeira vez afirmei ao seu ouvido, como dezenas de vezes nos anos anteriores, que seus olhos brilhariam de maneira especial, afinal, eu havia chegado. Fui surpreendido com um longo beijo e com sua inesperada afirmação de que seus olhos brilhavam, seu coração acelerava e seu corpo tremia apenas por pensar no nosso inevitável reencontro. Foram vários depois daquele.

Naquela noite, não assistimos aula. Ficamos sentados no extenso gramado iluminados pelas luzes artificiais, estrelas e lua. Não dava para recuperar o que não tivemos. Não dava para fazer o que não fizemos. Não dava... Durante alguns semestres era comum alguns antigos amigos surpreenderem-se com a cena de vê-la me procurando bastante transtornada. Não entendia que eu, fascinado, apenas precisava viver as novas oportunidades que o mundo me oferecia a cada instante. Ela condenava...