UM CRIME NA LAPA
UM CRIME NA LAPA
Nelson Marzullo Tangerini
Enquanto o corpo da bela e loira Gisele jaz nu e adormecido – para sempre? - sobre a cama de um imundo e fétido quarto da Lapa, fazendo-nos lembrar, rapidamente, de um longínquo poema de Castro Alves, seu atormentado e tenso namorado resolve passear pelo reduto boêmio daquela região.
O autor de Vagando na Noite Perdida, Jorge Eduardo Magalhães, teatrólogo, escritor, poeta, professor de Língua Portuguesa e Literatura e membro do Clube dos Escritores Piracicaba, passeia pelo mundo [a velha Lapa] de Manuel Bandeira, fazendo uma verdadeira geografia machadiana daquele local que um dia fora familiar e muito chique.
A Lapa de Herivelto Martins e Grande Otelo, a Lapa das prostitutas de Bandeira é tratada com detalhes metalinguísticos, quando Jorge Eduardo nos explica o significado de “Pai de Rua”, aquele cidadão que explora os “meninos de rua”, ficando com a maior parte do roubo e dando-lhes cola para cheirar e um falso carinho paterno.
Em meio a toda aquela confusão, toda aquela confluência de marginalidades, surgem uma dama de vermelho que pode ser pura ilusão de ótica, o travesti com navalha escondida na boca e o mauricinho alcoolizado e abandonado pelos amigos da onça. E seu relógio some, passando, talvez, por diversas mãos.
O “namorado” da desfalecida Gisele, ainda consciente e sensível, frenquentou, certa vez, ambientes melhores. Hoje, o homem decadente – e como uma estrela cadente – faz um tour no submundo do Rio de Janeiro, revisitando bares imundos, fedorentos, onde permeiam a insensibilidade, a malandragem, a indiferença.
A obra do escritor Jorge Eduardo Magalhães tem um pouco do teatrólogo que aborda assuntos modernos – e antigos - à luz de Nelson Rodrigues ou Plínio Marcos. Daí o detalhe nos personagens, nas suas esquisitices, nos seus cacoetes, não olvidando, porém, do espaço da narrativa.
O que acontecerá com a bela Gisele, de bundinha empinada, seios pequenos, esbelta e deliciosa?
A jovem travesti Gisele, portadora do vírus HIV, é asfixiada por seu amante apaixonado, que, após o crime, fuma um cigarro, dois, e sai para a noite com a intenção de pacificar a sua alma. Revê toda a sua vida e encontra, finalmente, a mulher de vestido vermelho que o seduzia. Faz amor com a estranha criatura que vai se desmaterializar na trama.
O louco amante, conhecedor da literatura russa e que deixou para trás seu nome e sobrenome, pois sabe-se um nada na vida, telefona para a polícia, fala-lhes que um travesti foi assassinado numa espelunca fedorenta e depois se entrega.
É a história do submundo da Lapa, do submundo das grandes cidades. Histórias como estas tomam as páginas policiais de nossos jornais sensacionalistas todos os dias.
[Orelha do livro VAGANDO NA NOITE PERDIDA,
de Jorge Eduardo Magalhães]
Nelson Marzullo Tangerini, 54 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro da ABI [Associação Brasileira de Imprensa] e do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.
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