Antes...e Depois?

Consegui uma foto minha de quando tinha 17 anos. Encontrei-a na casa de minha ex-sogra, a 1ª. (estou na 3ª.) Mas juro que a minha vocação para casadoira começa a definhar e agora pretendo parar por aqui.

Apeteceu-me eliminar a dedicatória do verso, com o intento de obliterar a asneira verbal datada de 24/11/1974, porém, meu ex, que assistia à cena - e adivinhando meus propósitos -, admoestou-me com um resquício de ressentimento velado, da perda de tempo que seria meu ato, já que por baixo do papel havia outra dedicatória antiga. E não era pra ele.

Mas, retornando ao tema, confesso que fiquei surpresa. E me perguntei: eu já fui bonita assim? (Os amigos bajuladores de plantão dizem que agora estou na minha melhor forma.) Sei!

De 1974 pra cá (não precisam pegar a calculadora: tenho 52 anos), tanta coisa mudou. Eu mudei. Mudaram os padrões de beleza. E a minha visão sobre eles também.

Na sociedade em que vivemos, os padrões de beleza sempre foram estabelecidos de forma perversa e autoritária. E os que não se enquadram no perfil instituído são desdenhados, diminuídos, discriminados. Principalmente as mulheres.

Desde muito jovem, cuidei do corpo com uma rotina pesada de exercícios físicos regulares. Me destacava na escola na prática de esportes como corridas, saltos e ginástica, mas minha preocupação se restringia exclusivamente à estética, à aparência física.

Porém, não estava satisfeita. No país de abundantes (sem trocadilho) hipérboles calipígias, eu não havia sido tão bem dotada nesse quisito. Ademais, em contraste com os ditames da época, possuia busto exagerado e, envergonhada, o disfarçava sob largas camisetas.

Com a prática de ginástica e musculação em academias, fiquei satisfeita com os resultados no tocante ao primeiro ponto em questão. Porém, em relação ao segundo, só depois de muitos anos, quando as mulheres começaram a fazer implante de silicone nos seios, com a convenção de que ter peito grande agora era um privilégio, é que vim relaxar e aproveitar, passando a ter uma boa convivência com essa parte do meu corpo.

Hoje, ainda pratico esportes: corro regularmente e faço musculação. Também não vou dizer que não gosto de minha barriga de tanquinho (já não tão tanquinho assim) e das minhas pernas torneadas. Mas enquanto suo a camisa nas máquinas e no asfalto, penso mais nos benefícios que trarão à minha saúde,do que nos efeitos que causarão à minha aparência.

Demorei a compreender a subjetividade da beleza, e vou fugindo aos poucos dessa tirania e lentamente instituindo o meu próprio conceito de belo. Embora não haja nada de errado em querer ser bonita. É humano e faz parte do sonho de consumo de homens e mulheres nos dias atuais. É antigo e perene como os nossos genes - "o impulso darwiniano pela sobrevivência e a atração pela boa genética" (1).

Agora, tento ter uma atitude diferente, fazendo as coisas na medida certa e de forma mais saudável. Algo que me traga aceitação, melhore minha auto-estima, porém, me proporcione, acima de tudo, serenidade, felicidade e qualidade de vida. Tento ser feliz com a minha própria imagem, respeitando minhas limitações, que certamente aumentarão com o tempo. Porque esse não para, né, Cazuza?

Quando estou angustiada, procuro resolver esta questão de outra forma. Antes, confusa, corria para a academia de ginástica, pois erroneamente e inconscientemente imaginava que as frustações ali se acabavam. Sei que isso é ilusório. As angústias continuam e preciso aprender a lidar com elas, organizando minhas emoções.

Estou tentanto viver em paz. Vivendo com alguém muito mais jovem do que eu, de apenas 28 anos e buscando a realização pessoal e afetiva; me enxergando e enxergando os outros com outros olhos, onde a beleza existe e de várias maneiras: eternas, como a do espírito, do caráter, do amor, e efêmeras, como a do corpo físico.

"Quando a busca por uma aparência perfeita é desmedida, deixa de ser benéfica e dá indícios de conflitos internos graves" (2).

(1) Folha de S. Paulo.

(2) Idem.