Jesus Cristo
na Cinelândia
Quando atravessava, esta semana, a Cinelândia, encontrei Jesus Cristo! Que história é essa? Cristo na Cinelândia?
Quem não me conhece, ao ler este introito, já me classificou como um daqueles pastores palavrosos ligado a um credo qualquer. E lhe não tiro a razão: hoje, o que não faltam são pregadores - legítimos e ilegítimos - soltos por aí.
No Largo da Carioca, por exemplo, é facil encotrá-los; na Cinelândia, vez em quando um aparece por lá.
Com a Bíblia nas mãos, eles, aos berros, dão o seu recado evangélico, inspirados ora nos Profestas, ora nos Evangelistas.
Muitos aproveitam o espaço e fazem longos e tenebrosos comentários sobre o Apocalípse. Enfáticos, anunciam o fim do mundo.
Inteiramente absorvidos pelos Santos Livros, ignoram o camelô que ao seu lado negocia seu produto; e não dão bolas para o repentista que improvisa versos, a partir de motes que lhe são atirados, de supetão, pela plateia, atenta e admirada. Sempre paro para aplaudir esses magnificos poetas de rua.
Muito bem. Em plena Cinelândia, uma cabana ligeiramente decorada. Dentro dessa cabana, um modesto altar. E sobre o altar um ostensório dourado guardando uma hóstia.
Uma hóstia igual a que a gente vê nas igrejas, nas horas de adoração momentânea ou permanente do Santíssimo.
Em torno da cabana-capela, jovens vestindo o hábito franciscano, até com tonsuras à moda antiga, faziam o que eu chamaria de acolhimento.
A alegria desses fradecos era um convite para uma visita à capelinha instalada no meio da borbulhante praça caricoa, uma das mais queridas do Rio de Janeiro.
Olhei pra Ivone, minha mulher, e lhe disse não acreditar no que estava vendo.
Acostumado a assistir pelas TVs somente cenas de violência nas ruas do Rio, aquilo me comoveu.
Que fiz então: entrei na igrejinha improvisada, e rezei pela Cidade Maravilhosa.
E bem baixinho, disse: que bom que o Jesus da Cinelandia também subisse os morros cariocas, hoje abalados pela violência sem limites...
(Rio, 17.7.2009)