NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA

Eu falo português corretamente, e daí?

Será que preciso ter vergonha de usar a concordância e a sintaxe apropriadas em uma conversa informal?

Será que sou obrigada a usar gírias e a falar errado apenas para me sentir “normal”?

Será que devo“engolir” os esses para parecer mais simpática, ou pelo menos, não ser taxada de arrogante?

Nossa língua portuguesa, tantas vezes maltratada, tantas vezes repelida e porque não, renegada...

Sim, porque o bonito, o moderno, o descolado é falar a linguagem que todos falam, tipo assim, universal!

Ai que saudades de Guimarães Rosa, este sim se expressava de forma inspirada, diferente, criativa, inventando palavras e ainda assim permanecendo genial!

Hot dog ao invés de cachorro quente dizem, é mais chique. Chique assim aportuguesado ou chic francês?

As pessoas querem viajar, ir para a terra do Tio Sam apenas para pedir hamburgers, banana split, catchup ,e não entender nada do que a garçonete vai dizer depois!

Ah, coitado do meu português...

Nas empresas é comum organizar-se um brainstorm para que surjam ideias, ou melhor, insites, para dar um upgrade na imagem do produto, ou em seu design. Sem falar nos dowsings, e do networking indispensável para o desejado feed-back de todo este trabalho. Quem aguenta tanto estrangeirismo?

Os adolescentes e crianças só vivem na net, deletando aquelas contatos indesejáveis, criando seus fakes, através de nicknames esquisitos, conectando-se ao Orkut, a twitters ou sites incríveis, plugadas ao mundo pela web, como se ele, o mundo, fosse do tamanho de seus quintais. É a globalização sem aportuguesamentos.

Quero falar português corretamente, quero escrever e ler no meu idioma na forma como ele foi concebido. Quero idolatrar Bechara, Cegalla, Aurélio Buarque de Holanda, Houaiss...

Olavo Bilac cantava a “última flor do Lácio, inculta e bela / és a um tempo esplendor e sepultura/” Fico com o esplendor, mas há os que preferem a sepultura.

Quero minha língua viva, com reforma ortográfica de tempos em tempos, para que permaneça sempre jovem.

Quero cultuar meus ídolos, meus Machados, Alencares, Cecílias e Veríssimos. Viajar no mundo da literatura e da poesia ao lado de Antonio Cândido, Massaud Moises, e dos irmãos Campos...

Quero penetrar nas nuances filológicas, linguísticas (sem trema, finalmente), semânticas e semióticas...

Quero continuar adorando e cultuando a língua portuguesa e não quero nunca, jamais, envergonhar-me dela!