Amigos, amigos, Amores à parte...?
Dia do amigo (20/julho)
Autor: Luiz Nunes
Cheguei cedo em meu escritório na Diretiva Comunicação, empresa de publicidade e outras tantas coisas, entre elas Assessoria de Imprensa, maravilhosamente regida por minha caçula Lilian de Souza. Aliás, uma jornalista feliz por seu diploma e agora aguardando o registro na DRT, a despeito dos que acham isto desnecessário para o exercício sagrado da profissão de jornalista. (vejam meu artigo Jornalistas sem diploma)
Desabafos à parte, acabei de comentar com ela, tomando um cafezinho maneiro, que ao abrir meus e-mails, um, em especial, me chamou a atenção. Uma News Letter oferecendo descontos especiais para o dia dos amigos, em roupas, acessórios... Hilário! Como profissional em publicidade, achei uma sacada bacana o aproveitamento desta oportunidade diferenciada de venda. Massss!!!
Na verdade, esse e-mail me fez reportar para o significado da “instituição” amizade.
Meus queridos, esta é uma matéria cheia de maravilhosas polêmicas!
Afinal o que significa ser amigo?
Querem que eu trate o assunto como poeta?
Bom, poderia assim dizer que um amigo é um tesouro que nos é presenteado por Deus.
Olha, poeticamente falando, eu diria que é muito mais que isso.
Alguns “poéticos” já afirmaram que “amigo é o irmão, irmã, escolhido por nós” e que os irmãos consanguíneos nem sempre são amigos!
Mas, nem vou continuar a tratar do assunto em tom tão lírico.
Quero falar de uma coisa mais prática. Amigos e amantes podem co-existir?
A música popular brasileira está repleta de desabafos dos amigos que se apaixonam por suas amigas e vice – e - versa.
Uma música interpretada pelos Titãs – preciso ver de quem é a autoria – conta uma história interessante. O autor diz que “ela” apareceu do nada e mexeu demais com ele. Bom, este mexeu demais, prá ele foi paixão, já prá ela... Tão significativo que ele, prá não deixar rolar apenas uma amizade, de cara avisa: “ não quero ser só mais um amigo.” Mas, a paixão parece ter acontecido apenas para ele e, de repente, ficou indeciso em tomar uma posição, que poderia ser “cedo ou tarde demais PRA DIZER ADEUS, prá dizer jamais.” Afinal, declarar-se poderia afastá-la de sua vida.
Ou seja, o contagio emocional aconteceu somente com ele. E agora? Cair fora? Mas, o melhor foi chamar a atenção e dizer: “porque você não vem prá mim?” Vir prá mim não é a mesma coisa de vem comigo. Vir prá mim pode significar que ele a quer apenas para si. Algo exclusivo apenas de amantes e não de amigos. Amigos não são exclusivos de ninguém. Podemos ser amigos de várias pessoas ao mesmo tempo. Embora, amigos de verdade sejam cada vez mais raros.
Enveredando pelo “reino das canções” eu acabei por trair minha idéia de sair da análise sobre amizades a partir da poesia. Entrei no âmbito das canções e não poderia me esquecer de Cazuza. Cazuza é co-autor de uma canção muito legal, “Preciso Dizer Que Te Amo”. Nossa! A letra, poesia dele, fala de um cara angustiado por uma amizade muito especial, por uma pessoa maravilhosa que enxerga nele “apenas” um amigo. Ele, aflito, quer desabafar, mas sempre se mantém na condição de amigo, ouvindo-a falar de suas dores com outros amores. Coitado, vejam só a que ponto vai sua “penitencia” de amigo apaixonado, quando ele diz “Quando a gente conversa / Contando casos besteiras / Tanta coisa em comum / Deixando escapar segredos. / E eu nem sei em que hora dizer / Me da um medo (que medo). / É que eu preciso dizer que eu te amo / Te ganhar ou perder sem engano...”
Conquistar ou perder! Isso mesmo! Ir pro tudo ou nada. É preciso dizer do seu amor antes que morra de angustia. Afinal, ninguém merece ficar ouvido a pessoa amada falar de seus problemas com outro! E, em seus pensamentos ele se imagina desabafando: “Nessa novela, baby, eu não quero ser teu amigo.../ Eu preciso dizer que te amo.../ Eu já nem sei se estou misturando (as coisas)... eu perco o sono.../, lembrando em cada riso teu qualquer bobeira ”. Ou seja, qualquer sorriso diferente da amada faz com que ele tenha esperança e, por que não, ganhe forças prá dizer dos seus sentimentos.
Fala Sério? Até que ponto uma relação assim pode ficar apenas no campo da amizade? Valeria a penas correr o risco de perder esta amizade prá tentar ser feliz?
É, quando no primeiro encontro, na primeira troca de olhares já rola um brilho diferente, um desejo, fica difícil reverter este impulso de paixão por uma tentativa de amizade.
Mas, vamos voltar à coisa prática. Amizade, prá mim, extrapola conceitos de afinidades. Amizade é cumplicidade, dedicação superior ao amor emocional/carnal entre duas pessoas. Amizade é tão superior que, de fato, é um presente que não se deve correr o risco de perder. É tão forte que, pior que nos casos das relações amorosas em que apenas um está totalmente amando, quando acontece uma única situação de quebra de confiança o mundo desmorona.
Só que, exatamente por esta minha visão da superioridade da relação de amizade em relação a uma simples relação amorosa (assim mesmo, sem esquivar da palavra relação) eu escrevi em minha crônica “Mulheres de Fibra, Grandes Mulheres”, que “Afinal, quando um Homem e uma Mulher são amigos e parceiros, antes de amantes, são capazes de dar inicio a um pequeno céu, aqui mesmo na terra. Dividindo sonhos, metas, alegrias, tristezas, filhos...”. Ou seja, eu creio que uma relação amorosa tem que incluir a relação de amizade para sustentar uma vida a dois. É que eu acredito que só os amantes não amigos, traem. Os casais que se sustentam pela cumplicidade de amigos, não traem. Podem até abandonar a relação, mas traição é difícil.
Mas, porque Amigos, amigos, Amores à parte?
Lembram o que Vinicius De Moraes falou a este respeito? Foi algo assim: “Eu morreria mil vezes se um amigo morresse, mas sobreviveria se perdesse um grande amor”. Vai me dizer que ele exagerou? È a pura verdade. Eu mesmo tive a infelicidade de perder minha mulher com apenas trinta anos de idade. Sua morte parecia que ia me sucumbir. Mas, antes que me julguem emocionalmente volúvel, informo que esta difícil experiência só me amadureceu para um dia, ao encontrar um grande amor – não um novo amor, pois nenhum se compara a outro – eu saiba exatamente o valor desta nova relação e, mais que amante da minha nova parceira – agora sim posso dizer “nova parceira” – saiba ser seu grande amigo e possa dar a ela mais que orgasmos. Que eu possa ser dela cúmplice, inclusive a ponto de ouvir seus desabafos de ex-amores.
Nossa! Quantas vezes encontrei pessoas maravilhosas em minha vida que, ao deixar transparecer dúvidas quanto a estar apaixonado e não queria apenas ser seu amigo, se posicionaram como amigas e me aconselharam: não perca esta amizade por causa de uma única noite de amor.
Tenho amigas que desejei como mulher e agradeço a Deus por não ter consumado meu desejo. Mantiveram-se amigas maravilhosas.
Só que tem o outro lado da moeda que também vale analisar.
Porque nos entregamos de corpo e alma para uma pessoa que acabamos de conhecer, correndo riscos de decepções e até de coisas piores e não nos entregamos a uma para a qual até colocamos a mão no fogo?
Será que vale a pena o risco de perder uma grande amizade para a tentativa de uma relação a dois?
Bom, este dilema pode não ser resolvido, assim, simplesmente. Mas uma coisa eu afirmo por experiência de vida: uma relação amorosa dificilmente se torna uma verdadeira relação de amizade sincera. Existem exemplos desta possibilidade? Sim, existem... mas são raros. Já uma relação de amizade sincera tem grandes possibilidades de vir a se tornar uma verdadeira relação amorosa.
Eu passei por uma experiência assim, por volta dos meus vinte anos. Tive uma grande amiga que me apoiava em tudo, inclusive naquilo que eu não podia contar nem com meus pais. Nossa cumplicidade era tanta que foi esta então amiga que se empenhou em me ajudar na publicação do meu primeiro livro. Nós nos víamos muito pouco. Neste período até morávamos em cidades diferentes. Mas quando nos encontrávamos era aquele abraço gostoso e beijinhos no rosto. Bom... os beijinhos no rosto foram ficando cada vez mais perto da boca até que chegaram na metade dos lábios. Não é difícil imaginar que aquele toque de “meios lábios” pediu os lábios inteiros... a boca. Os amigos nos criticaram afirmando que havíamos feito uma bobagem, que nossa amizade era maravilhosa e por causa de uma provável fantasia estávamos pondo tudo isto em risco. Bom, esta relação durou pouco mais de um ano e não perdemos a amizade. Ao contrário. Continuamos amigos e os parceiros com quem nos casamos também.
Se eu estou negando o título desta crônica? Não, com certeza não. E não me venham cobrar a razão desta enrolação toda prá não chegar à conclusão nenhuma! E vou encerrando com uma frase que li no MSN de uma amiga: “Não quero ter razão, quero ser Feliz!”
Ah! Aproveitem o dia do amigo, que é comemorado em 20 de Julho, prá analisar como é importante ter amigos de verdade à nossa volta, mas, se for amor... “não diga, nada por favor”, beijem muuuiiiitooo! Sejamos felizes e vivamos um dia de cada vez. Se hoje evitarmos o risco de sermos felizes, poderemos ter um amanhã muito amargo!
Afinal, sempre existe uma grande razão para permitirmos que nossas emoções se manifestem.
E sabe qual é a maior delas? Viver e viver de verdade!
Luiz Nunes
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