COMO 'DAR UMA PALMADA'...

Você leitor deve estar se perguntando: como podemos numa educação tão avançada e cheia de critérios modernos, ainda possa alguém “dar palmadas”, como forma de educar? O leitor atento também deve ter observado que as palavras (do título desta crônica) que indicam o método arcaico de ensino, vem entre aspas. Isto quer dizer que podemos “dar palmadas” sem usar as mãos, mas simplesmente ensinar através de metáforas, dando recados indiretos que se bem entendidos valem mais que qualquer “puxão de orelha”. Evidente que quando o ensino é direcionado às crianças de uma forma geral, não pode haver admoestações indiretas, eis que a criança deve saber as razões e os porquês de estar sendo advertida, sob pena de não entender a lição e assim continuar a trilhar o caminho errado.

Mas quando temos de ensinar aos adultos? Esse é o grande desafio...Pois aquele cidadão que tem personalidade formada e por tal razão se acha dono de suas verdades, é difícil fazer com que ele entenda uma “chamada de atenção” de forma direta, pois as pessoas tendem a se ofenderem, já que muitas vezes possuem na essência de sua personalidade alguns paradigmas de intolerância por isso partem para o revide e muitas chegam até às agressões. Como fazer então para dar um recado de admoestação para alguém que você sabe que irá se ofender se dirigir a “bronca” através de meios diretos?

Penso que não se trata de uma tarefa muito fácil...Porém, para tudo na vida há uma solução, já dizia a frase popular que acho bem inteligente. Antes de se tomar uma decisão de tal porte, a primeira coisa é não exercitá-la enquanto a contenda se desenvolve. Ou melhor, é deixar que tudo se acalme e, depois, quando a razão da pessoa estiver retornado, aí sim, utilizar o ingrediente necessário para tentar demovê-la das suas razões. Mesmo assim, não é aconselhável que o tema seja abordado em forma de crítica direta, pois há muitas formas de tratar do assunto, para que a pessoa possa pensar sobre o que você está querendo dizer. Isso leva a dois resultados: a) não causar constrangimento; b) e obriga que a questão seja vista da sua forma de abordar. Por que isso acontece? Por que a pessoa está desarmada das suas contingências unilaterais, já que não possui mais dentro de si aquele rancor inerente à contenda e também porque neste momento, é você que está dando as cartas e expressando uma solução, embora, a princípio, a sua forma de colocar a questão possa parecer um pouco drástica;mas é aceita porque feita de uma forma delicada.

Passei por uma situação dessa natureza num encontro de lazer, eis que sempre nas quintas-feiras nós reunimos um grupo para jogar futebol na sede do nosso sindicato. Pois bem, um dos colegas mais afoito e que possui uma personalidade mais agressiva, acabou se envolvendo numa briga com o adversário. Percebi que as agressões só começaram porque ele – não se contendo, depois de uma jogada mais viril do adversário – deu-lhe um chute enquanto o adversário estava no chão. Evidente que depois disso a contenda se generalizou e depois da interferência dos demais colegas o tumulto foi superado.

Diante disso, eu precisava chamar-lhe a atenção, pois não seria possível continuarmos nosso lazer com um colega que se altera na sua personalidade, com tanta facilidade, principalmente quando está dentro de campo, de onde se extrai uma adrenalina mais acentuada.

Como tenho um site de movimentação das nossas atividades esportivas denominado www.maonataca.com.br; fiz constar no dia seguinte uma matéria, com o objetivo de “dar uma palmada” sem utilizar as mãos, mas apenas com o poder da metáfora. Vejamos o texto respectivo:

“ O jogo de ontem foi interrompido aos 27 minutos do segundo tempo, em face de uma “troca de gentilezas” entre dois atletas. Teve uma hora que voou pena pra todo quanto é canto. De uma lado a “Turma da Fé”, de outro, a paraguaiada. Mas, nada que não pudesse ser contido, afinal, todos se conhecem de muito tempo e uma contenda desse tipo não corresponde ao verdadeiro objetivo da 'Bancada da Bola'. Assim, depois de serenados os ânimos e com os pedidos de desculpas (peculiar a quem tem boa educação), fomos para a “guela” que se encarregou de transformar a ira em risos e diversão.

O árbitro (muito experiente), cunhado de uma profissional da arbitragem (Sindárbitro), ficou de longe registrando tudo para depois fazer a súmula, descrevendo todas as circunstâncias de fato e de direito, para servir de subsídio ao julgamento que se realizará em breve no Tribunal da 'Bancada da Bola'. Este cronista curioso, foi investigar os termos desse registro e viu uma anotação de seguinte teor: “O QUE DISSERAM OS PARAGUAIOS: - NOS OUTROS TEMUS O SOBRENOMI MORILHO, NÃO MEXAM COM NÓIS QUE O SANGUE ENQUENTA, ESSE HOMBRES DA IGREJA NÓIS AGUENTA, ATÉ BENZIDOS COM ÁGUA BENTA! O QUE DISSERAM OS RELIGIOSOS: - OH, SENHOR! ME SALVE DOS MORILHOS; PROTEJA ESTES SEUS FILHOS, QUE ESTÃO DE CABEÇA QUENTE, NÃO DEIXA ISSO ACONTECER COM A GENTE, CABE COM ISSO AGORA, PARA NÃO FICARMOS DE FORA DOS JOGOS DA QUINTA E QUE O 'MACHADINHO' NADA SINTA E NÃO NOS TIRE DA AGENDA, POR ISSO OFERECEMOS UMA OFERENDA: ALGUMAS “LOIRAS GELADAS” E UM ABRAÇO DA RAPAZIADA.

Bem, como tudo terminou em versos, com ambos os lados pedindo desculpas, acho que a contenda só serviu de ingrediente para que tenhamos mais uma história a registrar, embora sempre é melhor que tais registros sejam apenas de alegria e nunca de tristeza.

Quanto ao jogo, o próprio Tribunal da Vida se encarregará de anular a peleja, pois pelo regulamento Universal em briga ninguém ganha e ninguém perde, tudo deve retornar ao zero para que todos possam pensar melhor e entender que no mundo da competição deve imperar apenas a paz e o espírito de desportividade. Assim, esta sentença (exarada por juiz monocrático) determina que tal partida seja repetida num futuro remoto, com o placar de zero a zero, para que os atletas sintam que não vale a pena confundir futebol com a modalidade olímpica do boxe.

Não creio que nossa arena seja palco de competições tão acirradas e tão alheias aos nosso objetivos que sempre foi jogar com parcimônia e sem certas rivalidades que não valem a pena ser alimentadas. Isso vale para ambos os lados. Melhor o companheirismo do que a rivalidade. Como somos civilizados e educados, certamente que tais fatos não se repetirão no futuro, até porque não queremos e não devemos construir encontros negativos.

Enfim, de nossa parte pedimos desculpas àqueles que porventura tenham saído machucados (física e moralmente). No mais, cabe a cada um refletir sobre sua própria conduta, afinal, um campo de futebol é um local de diversão e, portanto, deve gerar alegria e não desavença. Que essa experiência seja mais um aprendizado para que doravante possamos jogar em paz”.

Nosso colega envolvido na contenda, sensibilizado, fez o seguinte comentário na mesma matéria: “Assim, como já havia feito imediatamente após o jogo, quero mais uma vez me desculpar com meus companheiros (Bancada da Bola), também com o pessoal da Igreja, e dizer que foi um grande mal entendido, e como o Machado já disse no texto acima "no mundo da competição deve imperar apenas a paz e o espírito de desportividade"

Isso prova que nós (seres humanos) - com todos os nossos defeitos - somos capazes de reconhecer um erro e pedir desculpas a quem nós fizemos um mal. Prova também que não é preciso ser incisivo numa critica, bastando apenas “darmos umas palmadas” (sem usar as mãos), que as coisas acabam acontecendo de uma forma serena e ordeira.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 17/07/2009
Código do texto: T1704362