A VOZ DA LUA




   
O estúdio estava envolto em névoa cintilante. Serpentinas formavam desenhos no chão. Em um canto, a cadeira do diretor, salpicada de confetes. Ando pelo velho cenário. E de repente, ele surge e retira a linda máscara veneziana de seu rosto:


- Meu Deus!


- Só Federico.


- Devo estar sonhando!


- O cinema é sonho, Dolce Vita.


Estou a dois passos do artista que mais dialogou com a minha alma. Ninguém falou tanto a minha língua como Federico Fellini. O que posso dizer a ele, agora? Mal consigo conter as pernas trêmulas, a voz falha, presa de emoção na garganta. E então, ele diz:


- Nos meus filmes ninguém tem medo de ser humano. Acalme-se.


Respiro fundo e consigo apenas balbuciar:


- Sua arte é a maior benção da minha vida. Com seus filmes, sinto que não estou só.


Federico sorri e afaga minha testa. Antes de ir embora, conta:


- Em Cannes, quando fui receber o prêmio por "La Dolce Vita", uma mulher pediu para falar comigo. Sua voz soava metálica. A ponta do nariz brilhava com o reflexo de um pedaço de metal dourado e carregava um macaquinho no colo. Sabe o que ela perguntou?


- O que?



- "P
or que nos seus filmes não existe ninguém normal?"


Minha gargalhada não me permitiu descobrir se era ironia ou mais um sonho felliniano. No entanto, entendi, finalmente: pouco importa se algo é real ou imaginário quando alguém faz arte.


"Grazie Maestro"! Obrigada Mestre! Obrigada Federico Fellini.


P.S.: A passagem em Cannes foi relatada por Fellini em documentário.





(*) Imagem: Google

http://www.dolcevita.prosaeverso.net



Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/07/2009
Reeditado em 17/07/2009
Código do texto: T1704266
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