Aventuras em Itapuã City
Antes de começar o relato, despreocupo-os: dessa vez não foi Geovani quem dirigiu. Saímos da casa de Léo. Era densa a noite. Estávamos a chegar perto de Itapuã City, ao ter, Geovani, a brilhante idéia: “E então, vamos tomar uma? Uma só, depois a gente vai...” Engraçado é como a proporção que a nossa mente cria é sempre inferior à realidade, digo: nesse simples aspecto. Sentamos, então, em um bar frente à igreja. Bebemos uma. Encontramos um conhecido. Falamos a ele. Levantamo-nos; resolvemos sair - e a saída é sempre complicada... Pensamos, então, em dar uma volta; diria mais, circular a redondeza. E foi o que fizemos. Como pescadores inábeis, nada achamos; era a volta, pois, nosso último destino. Em caminho, todavia, vimos, de longe, belos sorrisos de belas garotas (é exatamente isso! Ou não concebem vocês belos sorrisos de feias garotas; ou sorrisos feios de belas garotas?) e resolvemos parar. Sentamo-nos ao lado da tão cortejada mesa. Refletimos bastante. Olhamos. Nada fizemos. É: nada fizemos. Irei explicar isso de forma melhor. Geovani, o astuto, disse: “Vou ao banheiro e cedo volto; então iremos nos aventurar a frontear à face daquelas garotas; falo mais: irão fascinar-se, elas, conosco!” E, agitado, saiu meu infeliz amigo. É verdade, talvez o seu ânimo altíssimo fosse explicável: uma leve dose de álcool. Geovani voltou; as garotas, por sua vez, se foram. Nesse esplêndido e extenso meio-pequeno-tempo, a aventura de meu amigo foi roubada por outros que, ao ver as garotas sozinhas, as cortejaram. Fim trágico, dizem vocês. Eu ousarei discordar disso. Na outra mesa, ao lado dessa uma rara, havia outra; e, como antes, com duas garotas. Havia uma diferença: não tão belas como antes. Sentamos e, como loucos, ouvimos logo isso: “Que susto! Vocês apareceram do nada”. Um intervalo: seríamos, nós, fantasmas para assustar desse jeito? Ó vida fragmentada... Certo é que nossa conversa corria bem. Éramos bons ouvintes; as moças, delicadas (rir-me-ão disso), trataram-nos de forma excelente. E foi no meio dessa excelência (que eu, desde o começo – é possível que isso seja mentira, porque quando escrevo tento elevar minha pessoa pouco além do desastre – desconfiava daquilo) que senti Geovani cutucar-me. Não entendi isso a princípio. Absorto, via as fotos da filha da minha adorável companhia, tentando entendê-la melhor. Foi ai que Geovani, quase a esmurrar-me, fez olhar-lhe a mão, que fazia o gesto monetário. Foi ai que entendi: eram profissionais (como uma delas mesmo o disse a Geovani) do sexo! O seguimento dessa história é inquietante: as delicadas moças disseram que iam ali, e jájá voltavam. Rirão de mim nessa parte. Mas eu irei rir depois. Pois é, não pagamos a conta delas. Não: de forma alguma. Geovani, o menino sagaz, havia pedido nossa conta (que era de outra mesa) antes de elas saírem! Enfim, não perdemos nada. Foi nesse momento que, aturdidos, dois rapazes (em uma mesa do lado da nossa) cutucaram-nos. Disseram que nós havíamos roubado a chance deles, pois iriam se expor às mulheres tão desejadas. Conversa vai; conversa vem. E nessa oscilação, perguntou-me um dos dois seres o que eu tanto via no celular da moça. Disse-lhe: a foto de sua filha. Virou-me, ele, com uma face raivosa. Em movimentos guiados lentamente, abaixou a mão; pegou a sandália do pé; apontou-a para mim, disse: E tu ainda ficou vendo fotos da filha da puta? É um otário mesmo!