Um amigo especial

Era noite de 24 de julho; noite estrelada, porém muito fria. Há cinco dias ele adoecera. Não comia nada, também não agüentava ficar nem em pé. A única coisa que conseguia ingerir era água, mas com muito sacrifício. Parecia ser o fim de uma vida. Não conseguia levantar nem mesmo para fazer suas necessidades; sempre que se levantava, caía.

Estava muito abatido, com um olhar tão triste que comovia qualquer pessoa que o visse; era mesmo de dar dó. Vendo-o naquele estado e sem poder fazer nada para ajudar, comecei a relembrar tudo que passamos juntos. As brincadeiras, os passeios que demos, as estripulias durante os banhos, suas fugas e suas voltas para casa depois de dias sem dar notícias, perdido; seu medo quando estourava qualquer fogo de artifício, e a bagunça que sempre fazia...

E foi exatamente naquele 24 de julho que o vi pela última vez. Já não conseguia mais ouvir seu choro e seus lamentos; achei que talvez estivesse a dormir. Mas não.

Ao chegar ao local em quem ele estava me deparei com ele sem reação alguma, com os olhos um pouco entreabertos e o semblante triste. Era o fim, definitivamente não havia mais volta. E apesar do meu desespero e da minha enorme vontade de reanimá-lo, não havia mais nada que pudesse ser feito. Meu amigo estava morto. Logo foi providenciado o seu enterro, ao qual preferi não acompanhar.

Hoje, um ano e pouco depois, ainda me lembro daquela cena horrível e também das boas lembranças que consegui guardar. Ele podia até não ser capaz de falar, mas com certeza também tinha seus sentimentos. E, definitivamente, meu cachorro, com certeza, foi um dos amigos mais especiais que já tive durante a minha vida.

(Escrito em 2008)

Anny Silva
Enviado por Anny Silva em 16/07/2009
Código do texto: T1703112
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