VAMOS FALAR DE FLORES

Lembro-me quando criança: em frente a minha casa havia um matagal bonito, últimos resquícios de uma mata atlântica que vem morrendo pouco a pouco, no meio da mata havia um belo jardim. Havia violetas, chananas, um arrebol de gira-sol, margaridas e samambaias: um sertão florido em plena zona urbana. Era belo, encantador e cheiroso. O jardim servia-me de inspiração para viver. Acordava pelas manhas e ia direto àquele jardim brincar com meus amigos. E quando chovia... quando chovia subia aquele cheiro gostoso de mata molhada sendo inalado pelo meu grande nariz. Um cheirinho bom igualzinho de sertão quando mandacaru flora lá na seca. Hoje ainda escuto Luiz Gonzaga, mas jardim?! Jardim não tenho mais. A secretaria de urbanização da cidadela onde eu morava, concedeu um terreno baldio distante da zona para um cacique potiguar construir um condomínio de luxo, se apossou do matagal em frente minha casa onde vivia o meu jardim, que era de um velho falecido esquecido, e, pelo menos para me consolar, ao invés de construir uma escola, hospital, creche... até uma igreja eu aceitava, não! Construiu um aterro sanitário. Meu grande nariz não mais inala o cheirinho bom de minhas margaridas, violetas e chananas. Vivo afogado num mar de merda. Parece que a sina do homem é pensar que a cabeça do outro homem é um pinico.

Por isso vivo, grito e morrerei gritando: todo homem nasce do excremento, vive no excremento e finda como excremento afogado sufocando-se com terra fedida na cara, servindo como alimento de minhocas.

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Ainda dizem por aí que o sertão vai virar mar... o meu sertão virou fossa e minha flores, excremento afogado em excrementos!