O DIA SEGUINTE
Depois do casamento, ela continuou trabalhando fora e ele fazendo horas extras nos fins de semana e feriados. Só assim puderam realizar o sonho de montar o próprio negócio: uma modesta loja de confecções.
O capital acumulado mal deu para concluir as instalações e organizar o estoque. Nada sobrou para a publicidade. Por isso, a falta de clientes no primeiro dia não desanimou o casal.
— Amanhã vai ser melhor... — ela animou o marido, no final do magro expediente.
No segundo dia, reabriram a loja com expectativa redobrada. Quem seria o primeiro freguês? Quem quer que fosse, acreditavam que abriria caminho para uma legião deles. Mas não foi dessa vez. Na hora de fechar, coube ao marido animar a parceira:
— É questão de tempo... Amanhã vai ser melhor.
No balanço da primeira semana, atribuíram à falta de experiência o fracasso total nas vendas. Quem sabe uma promoção espetacular atraísse os compradores? E botaram toda a mercadoria a preço de custo.
Não deu certo. Os cartazes pendurados em toda a extensão da loja atraíram, no máximo, o olhar de um e outro passante. Consumidor que era bom, nenhum.
Cotovelos fincados no balcão, pouca conversa, a desolação dos proprietários era visível ao fim do primeiro mês. Nesse estado, ambos foram surpreendidos pelo sujeito que entrou na loja aquele dia. De um salto, o casal de vendedores foi recebê-lo à porta.
— Temos as melhores mercadorias e os preços mais baixos da região... O senhor não vai se arrepender. — garantiu o vendedor, convidando o cliente a se sentar.
— E o melhor atendimento... — acrescentou a mulher, enquanto servia a ele um cafezinho.
Até então, nenhum cliente no mundo havia sido coberto de tamanha atenção e cortesia. Quando o homem pôde finalmente dizer a que veio, gaguejou, meio constrangido:
— Agradeço a gentileza... Mas não quero comprar nada, não. Estou aqui é procurando um emprego.
Depois da frustração, o casal de comerciantes já não tinha certeza de que o dia seguinte seria melhor...
* * *