Imagem: Alquimia - Willian Douglas
Música: Prodigal - BenWassel

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A alquimia do poder e da hipocrisia

 
O comum não é capaz de provocar emoções ou indignações, ele anestesia a sensibilidade. O se o ouro não tivesse pureza e se fosse abundante ele não teria valor. Mas, o ouro não é uma pedra vil, a natureza o dotou pureza e raridade, a não ser que o homem o transforme.

Os alquimistas, de uma forma simbólica, tentaram transformar um metal vil em ouro. Por que de uma forma simbólica? Porque os verdadeiros alquimistas queriam mostrar ao mundo que seriam capazes de transformar aquilo que era comum e pobre na mente humana, ou seja, a hipocrisia, a maldade e o egoísmo em uma áurea virtude de caráter.

Assistimos nos dias atuais a alquimia ao inverso, o ouro está sendo transformado no mais vil dos metais, uma inaceitável inversão de valores. Não sei se isso acontece somente nos dias de hoje. Em 1914, Rui Barbosa assim discursou: “De tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega-se a rir-se da honra, desanimar-se de justiça e ter vergonha de ser honesto”.

A imprensa certa ou errada, se certa está apenas cumprindo o seu papel, se errada teria que pagar pelo crime, noticia a cada dia mais um escândalo político. Muito se fala, muito se discute e nada acontece, ou melhor, “desacontece”. Será que o povo se tornou cego frente ao crime e a hipocrisia?

Há pouco tempo atrás um político, na opinião do adversário, era da pior estirpe possível, cometia todos os tipos de falcatruas. Hoje, ele não é um adversário é um aliado, e por ser aliado, ele nunca roubou e os seus defeitos acabaram. Qual seria o nome mais correto para isso? Creio que seja a pior das hipocrisias.  E aqueles que engrossam as filas dos acusados, em qualquer época, são os amigos do rei, independente de quem seja o rei, estão sempre às sombras do poder para manter os seus
privilégios e de seus asseclas à custa de procedimentos escusos.

Um verdadeiro político deveria ser conhecido pelos princípios e pelos ideais. Hoje, princípios e ideais foram substituídos por projetos pessoais e quando governa ou legisla em nome de projetos pessoais a pátria fica em segundo plano.

O político, além de legislar ou governar em nome do povo, se transforma em uma vedete exposta aos olhos de todos. Eu disse de todos. Aos olhos daqueles que tem o espírito crítico, que conseguem separar a paixão partidária da verdade. Daqueles que entendem a política de acordo com a sua conveniência, e quando satisfeito os seus desejos, os políticos são deuses. Daqueles que os políticos e os artistas pop são a mesma coisa. E o mais triste é serem expostos aos olhos das crianças. Atualmente, nossas crianças estão crescendo com a lamentável imagem de pessoas que cometem crimes, continuam impunes e exercendo o poder.

Será que generalização do erro calejou a sensibilidade? Até quando durará nossa cegueira frente à hipocrisia? Vamos continuar batendo palmas para a roupa do rei sendo que o rei está nu? Creio que a resposta terá que ser dada por cada um de nós e que a inércia e a passividade são inimigas das mudanças.

 Para romper a inércia, temos que voltar aos velhos processos alquímicos, o de transformar o metal vil em ouro. O que assistimos hoje é o inverso. Uma verdadeira inversão de valores, onde o ouro raro é rapidamente transformado em cascalhos que rolam nas estradas imundas. Cascalhos sujos são comuns, abundantes e não sensibilizam ninguém.
Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 16/07/2009
Reeditado em 16/07/2009
Código do texto: T1702743