Fotografia
Meu pai era um daqueles fotógrafos-artistas que recebiam o cliente num studio atulhado com uma parafernália de projetores, cortinas e “n” efeitos de background com cenários removíveis tais como telas, colunas góticas e uma infinidade de outros artifícios que eu não seria capaz de descrever...
Eu teria os meus 6 anos e pasmava de curiosidade observando como ele não parava de mover as luzes para obter os efeitos de sombras nas áreas desejadas. A cada mexida, lá vinha ele conferir a imagem de “pernas pro ar” refletida no vidro fosco da enorme câmera de fole, que usava aquelas chapas negativas de vidro nas quais não me atrevia a tocar depois de haver quebrado algumas e sido castigado!
Depois, sentava horas seguidas com lapiseiras muito fininhas retocando as chapas e fazendo desaparecer imperfeições, manchas e rugas, de tal forma que as ampliações davam à luz rostos sem as marcas da idade, sem no entanto descaracterizar os traços da pessoa!
Mas o que me fascinava mesmo e não desgrudava dele, era quando a ampliação era passada no banho que fazia desaparecer a imagem e depois ela aparecia de novo instantâneamente em cor sépia!...Eu achava tudo aquilo mágico e meus olhinhos nem se mexiam enquanto o meu pai misturava tintas e com incrível maestria, ia colorindo os rostos com naturalidade...