À MESA

Minhas filhas já aprenderam e espero que seja para sempre. Costumam não almoçar, jantar ou lanchar se não tiverem companhia à mesa. Minha mulher, nem tanto, nunca se importou muito com essas coisas. Formações diferentes. Acho o máximo da cortesia, da gentileza, da generosidade uma família em torno de uma mesa. E estendo aqui o significado do núcleo Família. Hoje ela é muito mais ampla do que a biológica.

À mesa é fundamental reunir gente que se gosta, que vive junto, que divide as coisas. Pois não diziam que quem come unido permanece unido? Eu ainda acredito nisso enquanto tudo muda. E com toda razão. Se estamos nos tornando reféns do tempo e algozes do seu bom usufruto, ainda pode sobrar um momento onde podemos fazer algo juntos. Nem que seja lavar uma roupa suja, botar pingos em is. Bom mesmo é o momento da reunião.

Comilanças à parte, dá para nos atualizarmos do outro. Para aquela participação de que tanto falavam: “não basta ser pai, tem que participar.” Os mimos do consumo nos dão uma alegria tão grande que ela – a paradoxal alegria - nos separa do outro. Mesmo porque, os únicos produtos de uso coletivo que se faz uso coletivamente numa casa estão na cozinha. Até a tv já virou artigo individual. Na minha infância tinha uma mesa de uns três metros de comprimento. E toda rodeada por enormes bancos de madeira. Para caber todos. Almoço e jantar ali pelo menos era sagrado que fosse com todos da casa que pudessem estar presentes. Assim foi se solidificando um hábito, do qual na abro mão. Às vezes eu acho que solidão é uma falta de mesa na hora da fome.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 16/07/2009
Reeditado em 24/07/2009
Código do texto: T1702116