Olhar tétrico
Imensos, seus olhares tétricos carregavam-me a investigar: há profundeza maior que o abismo humano? Sigo-a. Seu caminho, circular, é densamente insalubre: não vejo luz, nem matéria a pisar. Ao chegar onde deve, não pára; é uma máquina. Cansado, custa-me, ainda assim, afastar-me dela. Que diabo sou? Se o poço da angústia é aquele caminho, o que me guia? Por que não ousar voar diferente? Distraído, sinto que sou visto. Ao olhar-lhe novamente, não vejo mais seus olhos; nem ela, nem nada. E minha paixão, pois, onde foi parar? Onde a irei ver? Ainda que com olhares tétricos, almejava-a tanto... Passou uma faísca em meu cérebro. Não seguia uma paixão; seguia a mim mesmo. Aquela ser – carregado de pusilanimidade – era o que sou, e não reconheço. Hoje, anos mais tarde, enfrento o abismo sem uma viga tão fraca a sustentar-me. Há algo em mim que é maior que tudo isso; que certamente transcende a tudo isso.