Possível amor "irracional"
Estavam parados. Pareciam em profunda meditação. Seus olhares, galhardos, não encontravam desvio no espaço, esse que tantas vezes nos distrai. Não os ouvi uma palavra; o silêncio era, pois, o deus da representação. Além de mim, uma pedra, em especial, observava-os. Como árvores, estavam parados; um olhar mais aguçado viria arrepiar-se-lhes os pêlos, como a dança das folhas d’árvores na música do vento. Desconheço o tempo em que ali permaneci. Passado um período, foram embora juntos. Sem reclamações ou desídias mútuas, foram-se ambos. Eram cães. Sim, cachorros. Haveria, ali, amor? Direi que quem desacredita no amor dos animais é o mesmo que desacredita na observação precisa das pedras. Não deixo conclusão alguma.