Saudades

Algum lugar, maio de 2009.

Estou na Faculdade, no meio de uma palestra interessante, mas ao mesmo tempo cansativa. Lá fora está frio, a noite está calma e o céu um pouco nublado.

De repente me pego lembrando de fatos passados, alguns tristes, outros felizes. Nessa hora me vem à mente a lembrança de vovô, uma figura sem igual, exemplo de pessoa responsável e dedicada à família e ao trabalho. Lembro-me, como se tivesse sido ontem, da última vez que o vi.

Era um domingo... Outubro de 94. Estávamos, meus irmãos e eu, a brincar na sala de casa, enquanto nossos pais aproveitavam a tarde calma para descansar. Calma até certo momento. Quando menos esperávamos, o marido de uma de nossas tias chega lá em casa e pergunta por mamãe. Avisamos que ela estava a dormir. Ele insistiu em falar com ela. Mesmo não nos lembrando de quem era aquele homem resolvemos chamar nossos pais. Quando eles vieram à porta ele informou que o vovô havia caído e não estava bem. Também pudera, há dias ele estava mal de saúde.

Imediatamente fomos para o sítio, onde ele e vovó moravam. Chegando lá ele estava em sua cama, sentado, com um leve sorriso estampado no rosto. Mas, apesar daquele sorriso, seu estado não era dos melhores. Pouco a pouco a tarde foi passando e, quando menos esperávamos, o vovô havia partido, seu sorriso havia se desfeito, seus olhos fecharam-se. Estava ali apenas seu corpo, pálido e gélido. Não veríamos mais a figura do vovô entre nós, seus belos olhos azuis não mais brilhariam de alegria ao chegarmos ao sítio nos finais de semana, de seus lábios não mais sentiríamos um beijo em nossas mãos nem ouviríamos mais sua voz mansa e doce.

Hoje, 15 anos após, me lembro como nunca do vovô e me bate uma saudade, vontade de revê-lo, mesmo que sendo impossível, de lhe pedir bênção e ele, suavemente, com sua mão fina pegar a minha e calmamente dizer: ”Deus te faça Feliz!”...