No Amarelinho


        No Rio de Janeiro, não é novidade, a gente come bem. Além dos restaurantes badalados de todas as horas, outros menos conhecidos exibem atraentes menus, ou cardápios, se assim preferirem.
        Gosto, por exemplo, do modesto Santa Satisfação, em Copacabana, mais precisamente na Rua Santa Clara, entre a Nossa Senhora e a Avenida Atlantica.
        Se o meu desejo for, apenas, bebericar, vou à Academia da cachaça, no Leblon, onde são servidas extraordinárias iguarias; desde o pastelzinho de camarão ao escondidinho de carne de sol ou de carne seca desfiada.
        Não dispenso, porém, o filé com fritas do Amarelinho. Filé mais gostoso não há em todo o Rio de Janeiro. Tão bom quanto só o filé do Morais, mas em São Paulo. 
        Dia desses, caí na besteira de falar isso para uma carioquinha descontraída, quando fazíamos um lanche, na Colombo, a encantadora confeitaria da Gonçalves Dias.
        Ela me contestou e com extrema veemência. Para, em seguida, me garantir que há outros filés mais saborosos na sua maravilhosa cidade. 
        E ainda me fez a gentileza de indicar os bairros onde poderei degustá-los.
        Achei que não devia levar o papo adiante. Afinal a menina era filha legítima de Ipanema. 

        Eis que estou voltando do  Amarelinho depois de alguns chopes estupidamente gelados e de traçar um filé, ao ponto, cercado de batatas por todos os lados. Imperdíveis, redigo, o chope e o filé!
        O Amarelinho, para os que ainda não o conhecem, fica no coração da Cinelândia.
        A velha e festejada Cinelândia idealizada pelo vendedor de peixes Francisco Serrador, que sonhou em fazer desse privilegiado local, no centro do Rio, a "Broadway brasileira".
        O Amarelinho foi fundado em 1921. E durante muitos anos foi um ponto de encontro de artistas do rádio, do cinema, do teatro, de jornalistas, de boêmios célebres e de respeitados intelectuais.
        E não podia ser diferente: em seu entorno ficam a Biblioteca Nacional, a Câmara Municipal do Rio, o Museu de Belas Artes e o Theatro Municipal, que acaba de completar cem anos.
        Mais algumas quadras, e chega-se, a pé, à Academia Brasileira de Letras, ao Largo da Carioca e à Rua do Ouvidor, de tantas histórias de um Rio que, praticamente, se reduzia a ela.
        Frequentando o Amarrelinho, fica-se sabendo, entre outras coisas, que ele foi construído em um terreno onde, em 1750, funcionou "a primeira instituição feminina religiosa do Brasil", o convento de Nossa Senhora da Ajuda, das irmãs da Imaculada Conceição.
        O que me parece um equívoco: até onde sei, Salvador ainda detém o privilégio de ter sido a cidade onde funcionou, idos de 1677, o primeiro monastério feminino do Brasil, o convento do Desterro, entregue às freiras franciscanas clarissas.
        Elas foram embora, há muitas décadas, mas o belo convento se mantém de pé, aos trancos e barrancos.
        Entrego, com muito prazer, aos historiadores de plantão a tarefe de dizerem onde, de fato, funcionou o primeiro convento para mulheres, em nosso país.
        Aqui, o meu objetivo é botar  site o Amarelinho no meu site - homenageando o tradiconal restaurante e o seu suculento filé.
        Frequento-o desde que, através de cronistas do Rio -  alguns boêmios - soube da sua existência. 

(Rio, 14.7.2009)

Foto - Do site do Amarelinho.
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 15/07/2009
Reeditado em 08/12/2020
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