Breve reflexão sobre sua ausência
Quantas vezes o sol nasceu desde a data de sua partida?
Não sei, assim como não sei quantas vezes briguei com os meninos, nem quantas vezes sentei à mesa só.
Insisto em não querer lembrar, mas como fazer para abrir a porta sem esperar que você esteja na sala, ou chegar tarde em casa sem o ligeiro tremor da recriminação?
A camisa nova de nosso garoto você não viu. E se tivesse visto, teria gostado?
E o vestido que escolhemos juntos, eu e a pequena, para a festa, era o certo?
Será que acertei fazer a lasanha? E o remédio na hora certa do pequeno, era a hora certa?
Se você estivesse aqui, teria aprovado todas as minhas escolhas e as minhas decisões? Como fazer para decidir só? Se não sou inteiro e me falta a metade que sabe fazer as coisas?
Como caminhar de volta, se as voltas todas de todas as nossas vidas foram feitas e refeitas e a sua você a fez em definitivo, na partida sem adeus?
Como abrir novos caminhos, construir novas pousadas ou arrumar o travesseiro; se sou – descubro agora – metade de mim também na vontade de caminhar, de construir e insone?
Que fazer de cada dia, de cada noite, de todas as festas e sons, das canções de vitória e como acolher o riso vizinho, se você não pode rir junto e eu desaprendi a rir sozinho?
Como abrir os braços se não é o seu corpo que vou abraçar? Porque você não ri nos meus sonhos?
Seis meses e olha que ontem já parecia longe quando sabia de você em casa ou a caminho do trabalho antes de você partir em definitivo. Seis meses e eu ainda ando, amo e me sento às mesas em torno de pessoas distantes e estranhas. Seis meses e a metade de mim que ficou é cada vez menor...