No caminho do meio os tijolos são amarelos
Aos dez anos de idade eu sonhava em ser poeta. Mas a poesia ficou pelo caminho.Eu, como a garotinha do Conto de Fadas dos irmãos Grimm,marquei o caminho com migalhas de pão.Os pássaros trataram de comê-las e eu me esqueci, por anos, de como era bom versar.Eu me acostumei à selva – de pedra- na qual eu estava e toquei minha vida.
Trilhei por outras estradas, mais denotativas que conotativas.Muito mais.Nos caminhos que percorri durante meus últimos vinte anos, apareceram rosas e espinhos, como em qualquer jornada: segui os caminhos do coração, da profissão, da fé, da maternidade, sem que eu compreendesse a saudade que eu trazia na bagagem.Saudade do quê, afinal? Era de um sonho.
Um dia, caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, resolvi dar razão a os grandes mestres e seguir pelo caminho do meio (condição fundamental para se atingir a felicidade maior, segundo eles).É nele que agora me encontro.
Usando um par de sapatinhos cor de carmim, tal como a Dorothy em “O Mágico de Oz”, sigo na Estrada de Tijolos Amarelos em busca do meu sonho de escrever, redescobrindo o prazer da literatura. Não sei se algum Mago estará a minha espera no final dessa jornada.Mas isso não é o mais importante para mim.
Meu ganho maior é dar um verso a todas as rimas não comidas pelos pássaros; é ver nascer as histórias adormecidas dentro de mim e estar feliz porque elas não foram afogadas pelo contínuo orvalhar do bosque de “João e Maria”.
E dessa vez, nenhuma ave glutona ou uma Bruxa Má do Norte vai me desviar...
(Maria Fernandes Shu – 14 de julho de 2009)