Palavras da Discrepância
Ganhei o peso da consciência. Pesa muito. Gigantescas infinitas toneladas elevadas à décima potência multiplicada por todo o resto do peso infinitamente pesado dos Planetas do nosso Multiverso.
Quebraram minhas costas, arruinaram meus sonhos e deslocaram meus olhos, arruinando minha visão. Despedaçaram minha esperança.
Quebraram minhas vértebras e arrancaram meus corações.
Assim criei várias personalidades. Uma fala, a outra escuta. Uma terceira grita.
Assim fumei, cheirei e bebi chá de cogumelos. Uns brancos, outros verdes, alguns cinzas.
Criei textos que não sei, sonhei sonhos que não viverei.
Enxerguei o horizonte diante de meus pequenos olhos deslocados.
Vi a imagem refletida em nuvens de algodão.
Percebi que nem tudo na vida é tudo.
E compreendi que nada pra mim sempre foi tudo.
Enxerguei através da escuridão e vi tua face.
Negra como asfalto. Áspera como carvão.
Vi a raiva de teu coração
Percebi que nada pode ser tão falso
Como o amor do ódio, como um xeque, sem mate.
Exerci a terceira personalidade, e gritei. Ajoelhei e sucumbi diante de ti.
Humilhei-me e vi a humilhação em mim.
Vi que não preciso de olhos para ver lindos horrores horrorosos.
Percebi que não preciso de ouvidos para ouvir belas barbaridades,
Tampouco preciso de pernas para tropeçar na minha cruel e banal realidade.
Não preciso ter dedos para escrever,
Nem de idéias para expressar.
Percebi que alguma coisa sempre se tornará outra diversa
Que nada possui e tudo perdeu.
Sempre esquecerei de correr sem olhar para trás.
Tenho medo. Possuo a escuridão do abismo infinito atarracado em meus ombros destruídos pelo peso da maléfica bondade.
Tenho tudo e não tenho nada.
Grito e ouço uma voz calada.
No vazio, no frio.
Na infinita boa má-vontade de nada fazer
A preguiça se apodera de mim e não me deixa correr.