MALUCO POR MALUCO, TANTO AQUI QUANTO LÁ!



 
Atenção!
A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE...
Está admitindo!

  Antigamente, este era um anúncio aguardado quando grande leva de pessoas corriam procurando a sua vez. Sistema de seleção bastante simplificado, quase como um avaliação que se fazia nas grandes feiras “no olho”. Se o defeito não salta à vista és candidato em potencial. Avaliação médica não era pré, às vezes, durante, ou mesmo pós admissão.

Escolaridade, perfil psicológico sequer existiam como item importante. Aliás, para marreta, pá, alavanca e picareta, bastava o porte. “Tirar minério”, na expressão da época, encher galeotas, carroças ou qualquer outro tipo de serviço indicado, candidatos não faltavam. Por este motivo, empregados de várias origens do país, norte, sul e nordeste.
O compromisso era político, assumido pelo governo com as potências que lutavam contra aquelas do Eixo. Arrancar minério, ainda que fosse à unha, como dizia o Guido. Fazer que as pedras arrancadas aqui chegassem ao porto, mesmo que doa no peito o coração, (do poeta)!

Pelo sistema de captação de mão de obra, tipos estranhos trabalhavam lado a lado. Às vezes, passava-se uma vida inteira sem que um acostumasse com os costumes do outro. Um tipo calado demais perto de um que falava até pelos cotovelos. Desta forma, as diferenças eram colocadas frente a frente, lado a lado.

Os casos, causos e lendas também surgiam daí: mula sem cabeça que subia a Rua Tiradentes e Rua Santana, arrancando fogo nas pedras da calçada de minério e soltando fogo pelas ventas. Juca de “Sô Paulo”, o sacristão, afirmava já ter visto essa cena de arrepiar, olhando pela fresta da porta do local onde morava. E muitos acreditavam no Juca, que era alfaiate e trabalhava no centro, perto da Pharmácia e drogaria Cardoso, ali defronte a loja do Coronel Tico.

Afirmava o Juca que, nas altas horas em noite de lua cheia, ele ouvia, lá pros lados da vila onde moravam os empregados da Companhia. Lobos fazendo serenata pra lua, uivando e correndo à caça. Garantia: dava pra observar tudo do pomar da casa paroquial da igreja Nossa Senhora do Rosário, hoje Catedral.

Se verdade, não sei. O que sei é que perto do Juca ninguém desmentia ou com ele teimava, ou ainda tirava farinha. Principalmente se o Juca estivesse um tanto alto, saía com essa fala: “não minto e nunca invento, saiba seu filho de jumento! Se for por ignorância, saibas, transijo, mas se for para zombares de minha alta prosopopéia, de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com meu cajado no alto da sinagoga e reduzir-te-ei a uma merda de massa encefálica. E daí, ao pó com certeza retornarás!” O texto de Rui Barbosa, adaptado por um maluco qualquer.

Enquanto isso, na empresa, no caso da seleção feita de qualquer jeito, o que não se garantia era mente sã e corpo perfeito. Às vezes tinha tanto maluco aqui fora quanto lá dentro.
CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 14/07/2009
Reeditado em 12/03/2012
Código do texto: T1698883