A MULHER, A MENINA E A MACACA
Faz algum tempo que venho tomando aos poucos consciência dos opostos que habitam em mim. E há algumas semanas atrás, deparei-me com uma tríade que acidentalmente, como quase todos os meus “insites” criativos. Tríade que batizei como: A Mulher, a Menina e a Macaca.
Pode ser um nome intrigantemente estranho, mas, vou tentar explicar e quem sabe vocês consigam ver alguma coerência. Mas antes que eu comece, quero deixar bem claro para “Sociedade Protetora Dos Animais”, que tal Macaca não tem qualquer relação com a minha negritude. Eu nunca cometeria tal perjúrio!
Quando eu era criança, ouvia sempre minha mãe se referir a libido exacerbada comum aos adolescentes, com a seguinte expressão:
- Fulano parece macaco! Só pensa em sacanagem!
Daí a parte mais assanhada de mim, ser delegada a falta de constrangimento tão comum nas macacas.
A Macaca ao lado da menina é a parte mais alegre de mim. Apesar de serem muito extrovertidas, diferentemente da Menina, ela não sofreu castração por parte dos adultos. Como ninguém consegue imaginar uma macaca fazendo parte da nossa sociedade. Porque educá-la? Vocês já se deram conta de quantos “Não nenéns” nós ouvimos em nossa primeira infância? São tantos que antes mesmo de aprendermos a falar, já sabemos acenar negativamente com a cabeça e com o dedinho.
Dessa forma livre de “castrações socializantes”, a Macaca pode sem qualquer pudor não só tocar as próprias “partes”, como as dos outros também. Ela pode dar-se ao luxo de se entregar ao prazer dos seus instintos, quando acha que lhe convém.
A Menina sorri com os olhos, é cheia de vida! Vê beleza em pequenas coisas que nos passam despercebidas, olha para céu e para o mar. Não sente culpa por comer chocolate. Ri em alto e bom tom da desgraça alheia. Não por maldade, mas pelo simples fato de ser engraçado. Ela não tem maldade! Ama intensamente e sem medo. Vive suas emoções de forma generosa, grande! E quando fica triste, sente aquela dor fina e constante a cortar seu coração dentro do peito... E chora baixinho! Mas basta um simples gesto de carinho para que suas lágrimas se sequem, e todas as mágoas fiquem para trás. A menina é toda sorrisos! Ela é suavidade e doçura que derrete na boca.
A Mulher é meu lado mais sério e maduro. Estética e de um bom gosto em tom pastel, para contrabalançar com o colorido das outras duas. Ela mantém o equilíbrio! A minha parte que toma cuidado, que tem receio, pois tem dentro do peito as marcas das dores da vida. É a Mulher que administra a casa, que paga as contas, que se irrita com o móvel da sala manchado por copos molhados. É intransigente, chata, pentelha e mandona! Mas... AMA! Ama por opção e com responsabilidade. É ela quem dá conforto ao filho que chora, quem cuida e aconchega em seus braços o companheiro cansado. É ela que a noite cansada, cozinha, lava e passa. Coloca sobre a mesa as refeições e come por último. É aquela cujo último pensamento antes de adormecer, é uma oração onde pede a Deus por todos. É quem impede que os fantasmas entrem, e transforma a casa em lar.
Essa “trípolaridade” sou eu! As trigêmeas... A Mulher, a Menina e a Macaca.