a espera do enterro
Ali no calçadão do Parque das Mangueiras, lá mesmo onde o amigo Robson Roger luta para manter limpo e com harmonia. Se encontra uma turma de filosofeiros tomadores de cachaça, fiéis ao lugar, ao papo e, como consequência a bebida. Lá estão todos os dias de 06 horas da manhã, até a hora da noite que a cabeça suportar o corpo exorbitante , alguns um pouco mais comprometidos vão para casa mais cedo e voltam antes mesmo do dia amanhecer, numa explícita demonstração de amizade para com os colegas.
Foco de objeto de pesquisas esta gente vive a mais autêntica utopia, não se entregam ao desprazeroso mundo das discussões sociais, com receio de pararem seus projetos etílicos de amparo aos acontecimentos diversos. Solidários e comprometidos estão condenados a sofrer por todas as causas. Numa heróica entrega como verdadeiros mártires, oferecendo a única coisa que lhes restam, que é o clamor, para chorar pelo outro, pela outra e até pelo fim da novela, em que o mocinho mata o vilão e se casa com mulher mais linda.
Exemplos magníficos que grande parte dos viventes ainda não seguiu, ainda não tiveram o prazer da entrega. Há poucos dias choraram pela derrota do Brasil para a França no dia em que a Nossa seleção, ganhava mais uma Copa das Confederações, se abraçando em um clima de fraternidade mas muita dor, a questão do tempo foi apenas um detalhe, quando souberam que não era a Copa do Mundo perdida e sim a da África ganhada, choraram e beberam novamente pela vitória.
Derramaram prantos quando um jornal antigo foi lido por um recém interno da psiquiatria e anunciado a morte do médico e cidadão honorário, o ex-prefeito Mario Ribeiro. Também não pouparam alegria para beberem quando souberam com novo atraso que agora o presidente dos Estados Unidos é um negro, com suas colocações singelas mas de boas intenções diziam que foi milagre de Nossa Senhora de Aparecida.
No momento, Michael Jackson é o motivo das lágrimas, desta vez a tristeza chegou de forma tão medonha que nem em casa estão indo mais, são tubos e mais tubos como dizem as línguas próximas. O fato que mais chama atenção para esta disposição de amor é que no local não tem televisão, nem rádio nem outra forma de obter informações, o empirismo é a mola propulsora desta linda irmandade, que imaginam como os fatos se encontram e tomam assim como verdade absoluta.
A sobrevivência está sendo mantida por força de fatias de salame, picadas em muitos pedaços e punhados de farinha, doados pelo público fiel das imediações. Antes que esqueça o motivo da vigília alí, é que foram informados que o enterro do Rei do Pop será no Jardim da Esperança.