O SEQUESTRO

O SEQUESTRO

Mariana era moça pobre. Pobre, mas muito educada. Acima da sua pobreza estava sua inteligência e o seu bom coração. Mariana tinha um coração não de ouro, mais que ouro, diamante. Era muito inteligente sim, porém usava de maneira errada. Só fazia coisas que muita gente abominava. Então decidiu Mariana em fazer a sua última estupidez. Sequestrar o seu amado.

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Narciso, ah Narciso. O próprio nome já diz. Era ele sim, em carne, osso e modéstia. Era (ao contrário de Mariana) muito rico. Beleza daquelas que brilham no sol de meio dia. E sabia que tinha todo esse, e mais algum potencial. Era o xodó da família, do bairro, da escola, do trabalho, de Deus e de tudo e principalmente do espelho. Enfim, era Narciso no nome e em todo o resto.

A única coisa de todo o resto que Narciso nunca percebeu, era a obsessão que causou em Mariana. Mariana coitada, não era nenhuma beldade, pelo contrário, era difícil ver pessoa tão feia, e tão mal cuidada feito Mariana. Mas Mariana tinha um trunfo que nenhuma mulher no mundo tinha. Não havia na face da terra coração mais puro, pessoa mais doce que ela.

O sequestro que Mariana resolvera praticar foi uma cosa de impulso, um impulso que sempre a levara para o buraco.

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Dia normal. Domingo pra ser exato. Não fazia frio, nem calor. Dia ideal para um sequestro.

Narciso todos os domingos, confraternizava com seus amigos no boteco do Zás. Barzinho pacato, escondido, uma delícia de lugar. Sempre que Narciso ia beber com seus amigos, passava um pouco da conta e em muitas vezes ficava completamente desnorteado. E para sua infelicidade nesse dia ele ficou desnorteado.

Narciso estava cambaleante sem saber direito onde estava, tropeçou, caiu e desmaiou. Quando abriu os olhos, não sabia direito onde estava. Era um lugar bem arejado, limpo e aconchegante, porém ele se viu amarrado e não se assustou. Sentiu um cheiro de café que adentrava suas narinas de uma maneira que lhe dava água na boca. Mariana então apareceu com uma xícara de café bem forte:

- Beba isso para passar essa ressaca. – Sussurrou Mariana.

- Mariana? O que você fez?

- Calma, eu não vou te machucar. Eu só quero conversar com você.

- Então me desamarre.

- Ainda não. Eu preciso que você me escute, depois eu te solto. – Narciso achou aquilo um absurdo apesar de não estar entendendo nada. Mariana deu o café para Narciso, que bebeu e se deliciou. Narciso então perguntou:

- O que você quer comigo Mariana, eu não estou entendendo nada?

- Você nunca percebeu o quanto eu te amo Narciso?

- Me perdoe Mariana, mas eu nunca percebi tal sentimento.

- Eu te trouxe aqui para abrir seus olhos, e mostrar quem te ama de verdade.

- Quem ama de verdade não faz esse tipo de barbaridade.

- Eu vou te provar que você esta errado.

Mariana nesse momento tinha os olhos rasos d’água e um imenso nó na garganta. Conteve-se por um instante, amordaçou Narciso e então começou o desabafo.

- Você, meu amor apesar da sua riqueza e da sua beleza, não enxerga um palmo a frente do nariz. Até hoje você não sabia que a única pessoa que te ama de verdade sou eu. – Mariana estava redondamente certa no que dissera, porém Narciso estava achando aquilo tudo um devaneio de mulher feia. – Eu te proponho uma coisa Narciso. Passe a ser pobre e feio ai sim, você vai ver quem são as pessoas que te ama. Pare de pagar as contas no Zás, pare de andar como quem vai a um casamento por dia, e você vai ver. Depois dessa proposta Mariana soltou Narciso, que por um minuto ficou atônito e logo em seguida saiu correndo porta afora.

Nas duas noites seguintes Narciso não dormiu. Incomodado e confuso com toda aquela situação, se perguntava se Mariana estaria certa ou errada. Narciso ficou realmente abalado com o que Mariana dissera. Após muito questionamento Narciso resolveu fazer o teste que Mariana propusera. Abdicou da sua fortuna, deixou seu cabelo crescer, começou a andar desleixado, enfim, mudou da água pro vinho. E viu tristemente as pessoas ele amava se afastarem uma a uma. Nostálgico e só Narciso decide procurar Mariana.

Quando Narciso viu Mariana, seus olhos lacrimejaram de imediato, não de alegria, mas de ódio puro.

- Eu era feliz até você aparecer na minha vida.

- Se acalme, eu só queria que você visse que a única pessoa que te ama de verdade sou eu.

- Você não ama nem a você mesma, e mais.... – Mariana nessa hora deu-lhe um beijo ardente nos lábios e disse:

- Queres voltar ao cativeiro, será muito melhor que da última vez?

Narciso hoje vive feliz no seu eterno cativeiro, ao lado da única pessoa que o ama de verdade.

Renann Calazans
Enviado por Renann Calazans em 13/07/2009
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