O ENCANTADOR DE PALAVRAS

Dedico o presente texto ao meu mestre, Monsenhor Diniz Mickosz, o qual me levou a explorar o fascinante mundo da Filosofia e das palavras.

Uma das maiores descobertas do ser humano, se não a maior, foi e continua sendo a escrita. As palavras com suas tipologias - como não ficar extasiado diante de formas tão belas e sensuais quando se está diante de uma escrita arábica ou com a profunda interioridade dos ideogramas orientais? - caminham há muito tempo com a humanidade, traduzindo sentimentos e pensamentos, elas são antropofanias.

Escrever é o mesmo que brincar. Todo escritor é um menestrel verbal, pois brinca com as posições das palavras e as transformam em vida, em música, e como tais possuem poderes mágicos, semelhantes aos da flauta do flautista de Hamelin. Este poder é a capacidade de fazer belas imagens com caquinhos insignificantes de vidros, e os transformar em um belo vitral ou mosaico. Infelizmente as crianças quando ingressam nas escolas, aprendem que magia é superstição, pois não acreditam que as palavras tenham o poder de criar. É necessário educar os olhos das crianças, “as palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos” (Rubem Alves).

Como ensinar as crianças amarem a leitura? Eu não começaria com as letras e as sílabas, como fazem as escolas, simplesmente leria as estórias mais fascinantes que a fariam entrar no mundo encantado da fantasia. Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela desejaria que eu lhe ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em estórias. É muito simples, como disse certa vez Rubem Alves: “o mundo de cada pessoa é muito pequeno. Os livros são a porta para um mundo grande. Pela leitura vivemos experiências que não foram nossas e então elas passam a ser nossas”. O objetivo da leitura é dar prazer, e por isso que ela é fonte de alegria. Claro, há alguns livros chatos, não os leiam, se há tantos livros deliciosos de serem lidos, por que gastar tempo lendo um livro que não dá prazer? Na leitura fazemos turismo sem sair de casa gastando menos dinheiro e sem correr os riscos das viagens. E isso é muito bom.

Em linhas anteriores, disse que as palavras se transformam em vida, e isso está de acordo com a teologia. “Para comer meus próprios semelhantes, eis-me sentado à mesa”, escreveu Augusto dos Anjos. Escrever e ler antropofagicamente é o que eu quero. Nietzsche sentia o mesmo e disse “de todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreve com o sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito”. Como na Eucaristia. A Eucaristia é um ritual antropofágico, porque “esse pão é o meu corpo; esse vinho é o meu sangue. Comei e bebei”. Literatura é isso, o que está de acordo com a teologia do evangelho de João, que afirma que a Palavra é igual à Carne.

Quod scripsi, scripsi.

Ramires karamázov
Enviado por Ramires karamázov em 13/07/2009
Código do texto: T1697286
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