...Quando ela enevelhecer

Crônicas de Soaroir

http://socronicas.blogspot.com/

Ando muito injuriada e não é pela minha idade, mas pelas porcarias que fazem, e escrevem sobre os velhos. Tem uns “sem noção” que provavelmente mesmo velhos não sejam suficientemente vividos para falar da nossa realidade e ficam se achando. Criam grupos disso, daquilo para projetar sabe-se deus quem ou o quê, e entre estes estão os dos “idosos” .

Outro dia (crônica à parte - “Legalmente Velha”) o meu porteiro ligou para avisar que havia chegado o meu cartão “do idoso”. Sim, por que vem escrito em negrito logo depois do destinatário.

Mas hoje a minha paciência levou à breca.(¹) Enquanto tentava, inutilmente, descobrir uma matéria que não pude acompanhar às 7:45 de hoje num determinado canal que anteriormente anunciara falar sobre as benesses da internet para incentivo à leitura bem como aos novos escritores, deparei com a seguinte “headline”

“Sábado, 11 de Julho de 2009

Vida depois dos 60 anos

O trabalho voluntário do Grupo Vida é proibido para menores de 60.”

Embora o meu oficio de escrever seja mero laboratório para desincrustar minhas antigas bactérias, não entendi muito bem a manchete.

Entre outras anomalias lá estava: “Aqueles que não conseguem mais ficar de pé, dão um jeitinho para balançar no ritmo do forró” Puxa vida...! (para não dizer outra coisa)

Tudo bem, “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, mas cá entre nós: levar música, de forró, para pessoas idosas, entre as quais algumas sequer mais conseguem ficar de pé é violência, uma afronta, para não dizer sacanagem. Isso é provocar, categorizar o próximo da sua mais íntima miserabilidade, que é a capacidade de movimentos, forçando-o a fingir que está gostando...

E outro dia?

Eu cheguei na dentista, aparentemente recém formada e já foi ela... “vai doer um pouquinho... vou dar uma anestesiazinha, abre a boquinha...” Ai eu me enfezei. Tirei aquelas porcarias da boca, me pus de pé e disse:

- Doutora, não me leva a mal, mas, primeiro não sou retardada, segundo já frequento dentista há bem mais de 50 anos e, pelo que me conste, ainda ministram ética em odonto. Resumindo - a pobre ficou roxa e mudou de tom enquanto extraía a raiz do meu dente.

Acho que caiba a nós, com mais de 60, educar, doutrinar essa turma que ainda não está familiarizada com a nossa geração e não permitir que as nossas carências e/ou consequências sejam confundidas com retardamento mental.

“Vida Depois dos 60 anos”... E antes? Que droga andamos nós fazendo por aqui? Estavamos mortos e não sabíamos? Quero chegar logo aos 90! Aos 90 logo...Reitero. Só para ver esta turma velha..., dançar forró.

Soaroir de Campos 11/7/09

(¹) bancarrota

(in loco p os céticos:

http://acao.globo.com/Acao/0,23167,GTS0-3776-61499,00.html)