Não era Assombração

A casa da avó Emilia era o melhor lugar para passar as férias. Ali todos os primos, vindos de diferentes cidades, se reuniam e... A alegria reinava!

Os primos mais velhos, já na adolescência, formavam o grupo da troca de confidencias, festas, sonhos e fantasia; enquanto os menores aproveitavam o espaço da casa grande, o quintal cheio de árvores frutíferas e os animais ali existentes.

Os doces, feitos na fornalha em tacho de cobre, perfumavam a casa com cheiro de fruta madura, açúcar preto e caramelo

Aqueles eram dias de riso fácil, alegrias e descobertas.

À noite, todos se reuniam na cozinha em torno do fogão a lenha, do café ralo e doce, já coado com açúcar e que as crianças chamavam de: “café bom”. Para os adultos, num pequeno bule de ágata azul, havia o café mais forte; mantido aquecido em banho-maria no canto do fogão, que, graças a uma acha em brasa, conservava o calor. Como acompanhamento: biscoitos de polvilho crocantes e broa de milho.

Eram momentos alegres de muita conversa e muitos “causos”.

Não havia televisão, o sinal de radio era fraco, assim como, a energia elétrica que proporcionava ao ambiente uma luminosidade amarela e tremula; dando as sombras certo mistério.

Conversar era o “grande barato” como definiria os jovens de hoje.

Aquela convivência alegre, o contar dos fatos do dia, os “causos” de assombração, as modinhas entoadas e desentoadas: mantinha a união e a alegria do grupo.

Tempo de muitos risos, pouca maldade e uma grande alegria de viver.

O sono chegava e o grupo se dividia em três ou quatro, indo ocupar cada um seu quarto. Camas arrumadas com lençol de algodão branquinho e cheiroso; cheiro de roupa lavada, quarada e seca ao sol. , Cobertores de lã, grosso e pesado. O riso solto, que segundo minha avó, era sinal de pouco siso, continuava. Até que vencidos pelo cansaço o sono tomava conta de todos.

Numa dessas noites, após longas historias de assombração; que os menores escutavam com os olhos arregalados, enquanto os jovens fingiam nada temer: todos já cansados e assustados resolveram ir deitar.

Casa grande e antiga, longo corredor, vários quartos e salas, assoalho de taboa.... Todos em suas camas, ainda assustados com as historias contadas.

De súbito, barulho de passos no corredor..... Quem estaria andando no corredor àquela hora?...Alguém do quarto pergunta: “ é você prima?” A resposta vem tremula:” Eu não. Achei que fosse você” Todos se encolhem; ninguém se atreve a levantar.

Vó Emilia deitara cedo e aquela altura já devia estar dormindo.

Silencio! .. Novamente os passos: toc, toc.,.. toc toc.

Para piorar, ressoa pela casa o som do piano, vindo da sala de visita, num dedilhar constante do grave ao agudo.

O que seria?

Pânico geral!

Ninguém se atreve a falar ou sair de seu quarto.

Até que a velha senhora, acostumada à casa grande, ao silencio e a “assombrações”: levanta, ascende a luz e pergunta. “Quem foi que trancou o gato e deixou o piano aberto?...

O gato ficara preso na sala. Subira no piano. Como gostava de musica, passeava sobre o teclado; indo e vindo sem parar.

Estava explicado o mistério do piano.

E os passos?...

Apenas um morcego. Caíra do telhado da cozinha, que não era forrado. Como não conseguia voar andava no corredor batendo com as azas no assoalho, num som idêntico ao de passos.

Para o morcego, a pequena e corajosa Vó Emilia, munida de vassoura, empurrou-o para fora da casa... E com um sorriso zombeteiro virou as costa e foi se deitar.

Passado o susto...Gargalhada geral!

E a historia é lembrada até hoje .

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 12/07/2009
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