Pensando sobre as Antologias de Poetas e de Poemas.

Amigos e amigas Recantistas! Estava pensando nas famosas antologias com os melhores poemas já escritos e também com os melhores Poetas; sejam antologias com os melhores Poetas nacionais ou universais; sejam antologias que abrangem diversas escolas literárias ou àquelas referentes a determinado período literário. Nasceram destes pensamentos ideias e questionamentos que exporei a seguir.

Desde já coloco em dúvida a empreitada da antologia que não tem por nascedouro a leitura de inúmeras obras completas de Poetas, quando possível, ou de boa parte dos seus livros ou poemas fixados nas publicações antigas: em edições raras dos poemas ou nos jornais, revistas e periódicos da época do poeta, quando estes, não têm sua obra em livro para a seleção dos melhores poemas. Dificuldade em ler um Poeta? Bibliotecas ajudam, não esqueçamos delas.

Tenho em casa 3 (três) bons exemplos de antologistas de qualidade:

A) J.G. de Araújo Jorge e sua antologia: Os mais belos Sonetos de Amor I, II, III;

B) Pedro de Alcântara Worms e sua antologia: 232 Poetas Paulistas, também

C) Edgard Rezende e sua antologia: Os Mais Belos Sonetos Brasileiros.

Estes abnegados da Poesia leram incansavelmente inúmeros Poetas e seus poemas, partindo da leitura toda ou da maior parte das composições dos Poetas suas escolhas para a antologia, até pedindo nos prefácios dos livros para que os leitores e Poetas mandassem poemas para análise, para quem sabe figurar numa posterior ampliação da antologia se o valor do novo Poeta lido mereça, segundo os critérios do antologista, participar da antologia em sua nova edição.

Obs. As antologias de J. G. de Araújo Jorge e Edgard Rezende eram ampliadas com novos Poetas e poemas a cada edição.

Um pequeno senão aos antologistas, excetuando J. G. de Araújo Jorge, que cita os livros lidos para realizar suas antologias, não colocam a referência bibliográfica de onde foi extraído o poema e nem a página. Também, aqui os 3 (três) antologistas, esqueceram de dizer quais os escritores foram deixados de fora da antologia. Enriqueceria por demais a antologia se assim procedessem.

Acredito que toda antologia deve partir da ideia de colocar os melhores, buscando o antologista ler o máximo possível de poetas e a maior quantidade possível dos seus poemas no segmento que deseja antologiar, por exemplo: poetas simbolistas, melhores poetas brasileiros do Século XIX, etc. e partiria daí a seleção do poema ou poemas a serem antologiados.

Como antologiar sem conhecer a fundo sobre o que é Poesia, sem ler milhares de poemas: de inúmeros Poetas? Não é verdade, amigos e amigas Recantistas?

Manuel Bandeira, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Nestor Vitor, três dos nossos principais antologistas, liam obras inteiras de inúmeros poetas para seleção de poetas e poemas antes de realizarem antologias. Lembremos das clássicas antologias sobre o Romantismo, o Parnasianismo, o Simbolismo, o Modernismo e até a dos Poetas Bissextos: poetas ocasionais (aqueles que escreveram poemas esporadicamente), feita pelo Bandeira, etc. Que assim seja sempre!

Mais recentemente, com a virada do Século, surgiram 3 antologias bem comercializadas e bem realizadas:

1) A da Petrobrás, com os 100 melhores Poetas brasileiros do Século XX, seleção feita por um colegiado de Poetas;

2) A antologia do Poeta e Jornalista José Nêumane Pinto também com os 100 melhores Poetas brasileiros do Século XX, por ele escolhidos e

3) A antologia de Ítalo Moriconi com os 100 melhores poemas brasileiros do Século XX.

Além da antologia publicada pelo Jornal Folha de São Paulo:

4) Os 100 melhores poemas do Século XX, abrangendo diversas Literaturas de diversos Países.

A antologia da Petrobrás, tem um ponto positivo, lista no final todos os Poetas que foram citados pelo colegiado. As antologias dos 100 melhores poemas brasileiros do Século XX e dos melhores Poetas brasileiros do Século XX trazem a referência bibliográfica dos poemas antologiados no final.

Acredito na competência dos antologistas, valorizo: sobremaneira, o trabalho de fôlego dos mesmos, e refaço questionamentos que me são valiosos quanto ao conteúdo total delas (nas antigas antologias que citei acima já acontecem estes questionamentos):

A) Por que não sabermos, sempre, todas as obras lidas de cada autor antologiado, quando não for as obras completas?;

B) Por que não ser praxe colocar a referência bibliográfica e a página onde se encontra o poema embaixo do poema antologiado? (facilita para quem copiar o poema a citação da fonte de onde encontra-se o poema) e

C) Por que não colocar, ao menos, a lista com todos os Poetas lidos para a seleção dos antologiados seja na antologia dos Poetas ou dos poemas: se não for possível apresentar todas as referências bibliográficas das obras consultadas para a seleção?

Dirá o Editor, talvez, que seria um custo alto elencar todas as obras lidas pelo(s) antologista(s), é justificável, porém, não vejo justeza para a seleção omitir estas informações. Daria maior credibilidade ao trabalho do(s) antologista(s).

Não é uma tarefa árdua citá-las. Todo antologista de poemas e Poetas acreditamos ser profundo conhecedor de Poesia e voraz leitor de poemas, tendo a referência bibliográfica dos livros, dos periódicos, das revistas literárias que leu, porque as leu e certamente anotou.

A indicação da obra completa do autor antologiado e o livro onde aparece(em) os poemas antologiados é de suma importância para instigar a leitura e ajudar o leitor na compra, se possível, quando ele gostar do(s) poema(s) de determinado autor, da sua obra poética.

Lembremos:

A) Toda antologia é uma visão individual ou de um colegiado e será sempre subjetiva as escolhas dos textos, seguindo critérios estabelecidos de antemão, além é claro de uma concepção particular do(s) antologiador(es) do que venha a ser Poesia, bom Poeta e poema antologiável;

B) Toda antologia parte de uma panorâmica parcial dos poetas possíveis de serem antologiados. Ninguém leu todos os poetas publicados, mesmo que sejam de apenas 1 (um) período literário;

C) Nenhuma antologia pode substituir a leitura das obras poéticas de nenhum Poeta;

D) A antologia deve prestar-se como um serviço de referência bibliográfica de Poetas;

E) Nenhuma antologia deve ser o centro irradiador da escolha dos melhores poemas do(s) Poeta(s) para o leitor, e sim: sempre, os seus livros. Apenas, quando da não possibilidade da leitura da obra ou parte da obra do autor em livro solo (isto pode acontecer com poetas pouco publicados e os nunca publicados);

F) Nenhum antologista merece mais sucesso e dividendos ter do que os Poetas. (pensem comigo: imaginar um antologista ter maior possibilidade de ganhos que o Poeta com direitos autorais é uma injustiça e tanto, não é verdade?!)

Pensando em outra antologia atualmente no mercado:

Fiquei um pouco surpreso e chateado, nesses últimos dias, com a descoberta de uma antologia, amigos e amigas Recantistas, chamada:

1) ANTOLOGIA DAS ANTOLOGIAS com 101 Poetas brasileiros REVISITADOS, organizada por: Magaly Trindade Gonçalves, Zélia Thomaz de Aquino e Zina Bellodi.

E pensei comigo algumas coisas:

A) É possível realizar uma antologia sem ler a obra dos Poetas? Lendo apenas livros de antologia?;

B) Se revisita a obra de qual Poeta fazendo uma Antologia das Antologias?;

C) Um poema não lido pelos antologistas, de um dos Poetas antologiados e até dos “não-antologiados” não pode ser mais moderno e adequado ao nosso tempo e até mais belo hoje, que outro(s) poema(s) constante(s) na(s) antologia(s) lida(s) e merecedor de um lugarzinho nesta antologia das antologias? (Sei que este não foi o objetivo desta antologia, porém, julgo válido este meu questionamento)

D) Como se sentiria o antologiado já falecido e se estiver vivo, como se sente, ao saber que não foi preciso ler sua obra poética para a seleção de seu(s) poema(s) para a Antologia das Antologias?

E) Para quem ficam os direitos autorais da obra, divide-se em quantas partes?

F) Não seria um desserviço para a comunidade poética esta idéia de não mais se ler uma obra poética de determinado Poeta para antologia-lo, crendo definitiva e imutável as escolhas anteriores dos poemas selecionáveis para qualquer antologia?

G) Para quem serve esta publicação? Ao amante de Poesia? A busca de se criar um público leitor de Poemas? Aos poetas que venderão mais seus livros? Ou à Editora e seus organizadores que podem gerar vendas e lucros sem o árduo esforço que deve ser publicar uma Antologia? (um antologista leva vários e vários anos estudando Poesia, descobrindo os poetas e lendo seus poemas, antes de arriscar uma antologia, não é verdade, amigos e amigas recantistas?!)

Um comentário:

Tenho certeza absoluta ser mais fácil encontrar livros de antologias do que livros de vários autores brasileiros antologiados, e falo isto com conhecimento de causa: possuo mais ou menos 1000 (mil) livros de Poesias, contando os livros em reunião, presentes nas edições completas dos poetas: em casa, e sei como é difícil encontrar livros ou poemas de alguns poetas pouco reeditados ou nunca editados, mas antologiados.

Outro comentário:

Tentemos procurar, por exemplo, um livro de poemas dos Poetas, anteriores à década de 50 do Século passado, para leitura, os quais não foram reunidos em obras completas ou ainda textos poéticos daqueles que nem sequer reuniram seus poemas em livros e raciocinemos, o que é mais fácil: ler as antologias ou ler os Poetas antigos nos originais? Quantos meses de procura e pesquisa para lê-los não seriam gastos, além de viagens ao seu Estado Natal, visitas em bibliotecas, coleções particulares, etc.

Lendo a sinopse desta Antologia das Antologias na internet, vejo que quem prefacia o livro é o nosso querido Professor e Crítico Literário da minha querida Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo: Alfredo Bosi. O crítico justifica a validade do livro pelo resgate as novas gerações de diversos poemas, que por gerações foram lidos e recitados e amados e memorizados pelo Brasil afora.

Tudo bem que é interessante saber quais os poemas mais antologiados de outrora e elenca-los para uma coletânea, realizando uma amálgama dos poemas mais conhecidos e lidos e recitados e amados, de diferentes períodos da nossa História Poética, desde José de Anchieta e Gregório de Matos até os dias atuais. Entretanto, se vamos realizar uma antologia, seja pelo amor à leitura dos Poetas, sendo valioso ir à fonte e ler toda a obra dos Poetas escolhidos e de outros antologiados "não-escolhidos", e quem sabe, como já disse anteriormente, algum poema mereça pertencer, no lugar de outro, a esta antologia: pela maior modernidade e/ou beleza do mesmo. Porém, não seja, apenas uma oportunidade mercadológica uma Antologia das Antologias. Mas, como a ideia é uma Antologia das Antologias se um poema escolhido fosse ausente de qualquer antologia a ideia do livro estaria perdida.

Esta Antologia das Antologias me parece, nas entrelinhas, para o leigo, uma inoportuna forma de dizer que os Poetas já foram lidos anteriormente e que de sua obra já foi selecionado o mais precioso. Enxergo-a como uma simplificação do árduo trabalho despendido para a publicação de uma antologia. Se pelo menos eu tiver a certeza que os três organizadores leram, ao menos, as obras dos 101 poetas antologiados no livro ficarei tranquilo, sabedor que os antologistas são amantes da Poesia e dos Poetas e não apenas leitores de antologias. E será um ponto positivo para os três autores do livro.

Nós precisamos, amigos e amigas Recantistas nos acostumar a citar as fontes dos textos que lemos. Precisamos aprender a buscar nas obras dos poetas, comprando-as, o poema que nos pode agradar. É necessário modificar este quadro, onde se conhece dos poemas de grandes autores, geralmente, o poema antologiado ou aquele que alguém digitou na internet. Os Poetas merecem muito mais valor de nossa parte e muito amor devemos ter pelas suas publicações. Quantos anos de luta, sofrimento, amor, trabalho e suor são gastos para se confeccionar um belo livro de Poesia, não é verdade, amigos e amigas, Recantistas? Os livros de Poesia merecem todo o nosso carinho e admiração...

Sonho, pessoal, um dia ver a Poesia nas prateleiras das livrarias: com aceitação de um número grande de pessoas e com inúmeros Poetas publicando! Para isto precisamos, nós poetas e amantes de Poesia, comprar livros de Poesia, para aquecer o mercado e mais Poetas serem abarcados pelas Editoras.

Mudemos o conceito! Busquemos dar preferência pelas Obras dos grandes Poetas ao invés das antologias e seleções dos seus “melhores” poemas. Ler um livro de Poesia ou a obra completa de um grande Poeta é muito mais valioso do que ler só os seus “melhores” poemas ou as antologias onde o Poeta aparece. Dá uma noção de todo da(s) vivência(s): angústias, sofreres, alegrias, amores, indignações, etc. de um período ou todo o período em que o Poeta escreveu. E a partir daí seremos o próprio selecionador dos poemas de cada Poeta que amamos, e estaremos, todos juntos e irmanados, contribuindo para que a Poesia venda no Brasil. Uma antologia com 100 poetas são pelo menos 99 livros de Poesia a menos vendidos, não é verdade, amigos e amigas, Recantistas? Daremos assim, oportunidade para uma boa quantidade de poetas publicarem e venderem.

Fiquemos com Deus,

Um abraço pessoal,

Alexandre!