UMA NOTA DE QUINHENTOS...
Na última quinta-feira, eu fui, juntamente com minha esposa, à casa de um conhecido para fazer-lhe uma visita de retribuição. Enquanto conversávamos, percebi, em cima de sua mesa de escritório, por baixo do vidro, várias cédulas antigas, dentre elas, uma cédula de 500 cruzeiros, do ano de 1978.
Recordei-me, então, de um episódio em que me vi envolvido, no ano de 1979, relacionado com uma nota de 500 cruzeiros. Por coincidência, enquanto eu me fazia lembrança, esse meu conhecido dizia à minha esposa que, no dia anterior, tinham tentado entrar na casa dele. Eram dois. Felizmente, foram perseguidos por uma viatura que passava no local, naquele instante, e acabaram por serem pegos. Na hora, quando o policial os interrogou, perguntando-lhes o porquê deles terem invadido uma residência, um se defendeu, dizendo: “‘doutô’, eu sou viciado”. Para um bom entendedor, meia palavra basta.
Lamentável, hoje, a falta de segurança e o volume de ocorrências de arrombamentos, invasões e pequenos furtos em casas domiciliares de Mossoró. De fato, uma prática que vem aumentando a cada dia, pressionada pelo número de, principalmente, desocupados e malandros a busca de algo para vender e, com isso, poder comprar, em sua maioria, a famigerada “pedra” de todos os dias. Melhor dizendo, de todas as horas, todos os minutos e todos os segundos. Quem assistiu ao “Profissão Repórter” da semana passada, na Globo, pôde ver e ouvir depoimentos estarrecedores de quem, infelizmente, caiu nas garras mortais dessa droga devastadora.
Assim, ouvindo o que ele dizia - e relembrando o meu passado -, eu lhes falei sobre o que uma nota de 500 cruzeiros representou - ou proporcionou – a mim, no ano de 1979. É claro que os tempos eram outros, mas, a essência do fato – tirando o objetivo – era a mesma: subtrair do seu verdadeiro dono o bem (ou bens) que ele possuía.
Era uma madrugada de sábado para domingo. Por volta das 03h00min da manhã. Eu acabara de sair de um clube, na Avenida Ibirapuera, na cidade de São Paulo, e me dirigia, a passos largos, para a residência onde eu morava. Era pertinho, na outra quadra. Em Moema – o clube e onde eu morava. Chegando à esquina da minha rua, quando eu ia dobrando-a, um carro, do tipo Fusca, parou do meu lado. Lá dentro, duas pessoas. Eram dois homens. Um deles, educadamente, falou-me assim:
- Boa noite, cavalheiro. Por favor, uma informação.
Naquele tempo não havia uma incidência muito grande de casos de violência desse tipo. Eram mais comuns os assaltos por pessoas a pé, principalmente, em bandos. Nunca assaltos praticados por pessoas dentro de um carro e, sobretudo, de forma tão educada. Por isso, sem desconfiar de nada eu me aproximei do veículo para prestar-lhes a informação que eles precisavam.
- Pois não. O que os senhores desejam saber?
- Em primeiro lugar, cavalheiro, eu gostaria de saber se o senhor leva dinheiro. Pode me dizer?
Foi aí que eu caí na real, melhor, no cruzeiro. Era um assalto. Diplomático, mas era.
- Levo sim, respondi, de forma resignada, já antevendo ficar sem o meu rico dinheirinho. Aliás, ao tentar me lembrar, de quanto eu tinha na carteira, eu me dei conta de que a nota de 500 cruzeiros era órfã.
- Então, por favor, me entregue, disse ele, de uma forma tão polida que em nenhum momento aquilo se caracterizava como uma violência contra um cidadão.
Assim eu fiz. Tirei a carteira do bolso traseiro esquerdo, entreguei-a na mão do distinto cavalheiro. No entanto, ao me abaixar para fazer isso, a corrente, que trazia no pescoço, saiu de dentro da camisa. É claro que ele também a subtraiu, inclusive, elogiando-a, por ser ela muito bonita e... valiosa. Para não se arriscar a perder a hora do ônibus, pela manhã, ele também me pediu o relógio e um anel que trazia no dedo anular da mão esquerda. Para finalizar a desapropriação, me pediu um cigarro. Só quis um. Porém, o mais interessante estava por vir. Ele – sempre tendo como cão de retaguarda o outro homem ao volante -, talvez pela hora adiantada e a preocupação em me ver chegar em segurança, à minha residência, acabou por falar:
- Pode me dizer se o cavalheiro mora muito longe daqui?
- Sim, falei eu, confiando na boa criação familiar e humanitária do (s) assaltante (s). Entretanto, ao mesmo tempo, fiquei com medo de ele interpretar isso como mentira (e era, na verdade, pois eu morava a uns 50 metros de onde eu estava) e, aí sim, usar a violência física. Mas, para meu espanto, ele me devolveu a carteira com meus documentos – sem os 500 cruzeiros, é claro – e uma nota de menor valor, que era para eu pegar uma condução e poder chegar em casa.
Em seguida, eles se despediram de mim, desejando-me uma boa noite e desapareceram na próxima esquina que havia na Rua das Gaivotas.
Na última quinta-feira, eu fui, juntamente com minha esposa, à casa de um conhecido para fazer-lhe uma visita de retribuição. Enquanto conversávamos, percebi, em cima de sua mesa de escritório, por baixo do vidro, várias cédulas antigas, dentre elas, uma cédula de 500 cruzeiros, do ano de 1978.
Recordei-me, então, de um episódio em que me vi envolvido, no ano de 1979, relacionado com uma nota de 500 cruzeiros. Por coincidência, enquanto eu me fazia lembrança, esse meu conhecido dizia à minha esposa que, no dia anterior, tinham tentado entrar na casa dele. Eram dois. Felizmente, foram perseguidos por uma viatura que passava no local, naquele instante, e acabaram por serem pegos. Na hora, quando o policial os interrogou, perguntando-lhes o porquê deles terem invadido uma residência, um se defendeu, dizendo: “‘doutô’, eu sou viciado”. Para um bom entendedor, meia palavra basta.
Lamentável, hoje, a falta de segurança e o volume de ocorrências de arrombamentos, invasões e pequenos furtos em casas domiciliares de Mossoró. De fato, uma prática que vem aumentando a cada dia, pressionada pelo número de, principalmente, desocupados e malandros a busca de algo para vender e, com isso, poder comprar, em sua maioria, a famigerada “pedra” de todos os dias. Melhor dizendo, de todas as horas, todos os minutos e todos os segundos. Quem assistiu ao “Profissão Repórter” da semana passada, na Globo, pôde ver e ouvir depoimentos estarrecedores de quem, infelizmente, caiu nas garras mortais dessa droga devastadora.
Assim, ouvindo o que ele dizia - e relembrando o meu passado -, eu lhes falei sobre o que uma nota de 500 cruzeiros representou - ou proporcionou – a mim, no ano de 1979. É claro que os tempos eram outros, mas, a essência do fato – tirando o objetivo – era a mesma: subtrair do seu verdadeiro dono o bem (ou bens) que ele possuía.
Era uma madrugada de sábado para domingo. Por volta das 03h00min da manhã. Eu acabara de sair de um clube, na Avenida Ibirapuera, na cidade de São Paulo, e me dirigia, a passos largos, para a residência onde eu morava. Era pertinho, na outra quadra. Em Moema – o clube e onde eu morava. Chegando à esquina da minha rua, quando eu ia dobrando-a, um carro, do tipo Fusca, parou do meu lado. Lá dentro, duas pessoas. Eram dois homens. Um deles, educadamente, falou-me assim:
- Boa noite, cavalheiro. Por favor, uma informação.
Naquele tempo não havia uma incidência muito grande de casos de violência desse tipo. Eram mais comuns os assaltos por pessoas a pé, principalmente, em bandos. Nunca assaltos praticados por pessoas dentro de um carro e, sobretudo, de forma tão educada. Por isso, sem desconfiar de nada eu me aproximei do veículo para prestar-lhes a informação que eles precisavam.
- Pois não. O que os senhores desejam saber?
- Em primeiro lugar, cavalheiro, eu gostaria de saber se o senhor leva dinheiro. Pode me dizer?
Foi aí que eu caí na real, melhor, no cruzeiro. Era um assalto. Diplomático, mas era.
- Levo sim, respondi, de forma resignada, já antevendo ficar sem o meu rico dinheirinho. Aliás, ao tentar me lembrar, de quanto eu tinha na carteira, eu me dei conta de que a nota de 500 cruzeiros era órfã.
- Então, por favor, me entregue, disse ele, de uma forma tão polida que em nenhum momento aquilo se caracterizava como uma violência contra um cidadão.
Assim eu fiz. Tirei a carteira do bolso traseiro esquerdo, entreguei-a na mão do distinto cavalheiro. No entanto, ao me abaixar para fazer isso, a corrente, que trazia no pescoço, saiu de dentro da camisa. É claro que ele também a subtraiu, inclusive, elogiando-a, por ser ela muito bonita e... valiosa. Para não se arriscar a perder a hora do ônibus, pela manhã, ele também me pediu o relógio e um anel que trazia no dedo anular da mão esquerda. Para finalizar a desapropriação, me pediu um cigarro. Só quis um. Porém, o mais interessante estava por vir. Ele – sempre tendo como cão de retaguarda o outro homem ao volante -, talvez pela hora adiantada e a preocupação em me ver chegar em segurança, à minha residência, acabou por falar:
- Pode me dizer se o cavalheiro mora muito longe daqui?
- Sim, falei eu, confiando na boa criação familiar e humanitária do (s) assaltante (s). Entretanto, ao mesmo tempo, fiquei com medo de ele interpretar isso como mentira (e era, na verdade, pois eu morava a uns 50 metros de onde eu estava) e, aí sim, usar a violência física. Mas, para meu espanto, ele me devolveu a carteira com meus documentos – sem os 500 cruzeiros, é claro – e uma nota de menor valor, que era para eu pegar uma condução e poder chegar em casa.
Em seguida, eles se despediram de mim, desejando-me uma boa noite e desapareceram na próxima esquina que havia na Rua das Gaivotas.
Obs. Imagem da internet