29 - IMAGEM URBANA, CENAS NO CAMPO DE FUTEBOL...

IMAGEM URBANA, CENAS NO CAMPO DE FUTEBOL...

Abrem-se as cortinas o palco está preparado”, é bem assim que diz o DaCruz Diniz. Os atores todos perfilados para as fotos disputadíssimas que seriam registradas em branco e preto pelo excelente Ze Leléia, do “Foto Donato”. A galera identificava mesmo como Donato era o Bar. Já o fotografo por excelência, era mesmo o Ze Leléia. Alto como um poste aquele bigodinho fino como ator de cinema nacional, inspirava tranqüilidade e paz... Mesmo assim, se não ficasse esperto perderia sua vez, ainda que “fotógrafo oficial” convidado pelo Ze Moreira, que lhe garantiria, pelo menos, uma dezena de fotos oficiais do feito.

As fotos, o Moreira as distribuiria aos muitos colaboradores que emprestavam generosamente seu tempo e até mesmo ajuda financeira ao Campestre Esporte Clube.

Ze Moreira era mesmo de reconhecer os préstimos que lhe ofereciam e por isso não lhe faltavam. Gostava de homenagear, no mínimo citar nos seus eloqüentes discursos de agradecimento.

Para a galera, melhor aproveitar-se da pose para o fotografo, ficavam como papagaios de pirata se amontoando atrás e ao lado do “retratista” que como eu disse quase perdia a sua vez.

Tudo isto se passou rapidamente, assim como o espocar dos flashes dos amadores. Aquelas cenas eram como um filme gravado em vídeo de super oito, agora reeditado colorido e remasterizado.

CAMPO DO CAMPESTRE – DOMINGO 03 DE MAIO DE 2009

Voltamos 30, 35 anos no tempo. O espaço era o mesmo, alguns dos melhores (atores), aliás, jogadores que já atuaram aqui estão no campo. Em sua maioria ex-jogadores, hoje estão mesmo é aqui fora dos alambrados.

Num relance, olho para a arquibancada identifico na torcida, várias pessoas que já vimos dezenas de vezes aplaudindo as nossas equipes de futebol juvenil.

Os torneios se sucediam, não terminávamos um sem que mais dois ou três estivessem agendados. Futebol aqui também como febre nacional. Corriam os anos 60, desde a copa de 58, com a Taça Jules Rimet, em nossas mãos. O futebol nacional tomou outro rumo, como se fosse possível esquecer o naufragar vexaminoso da Seleção canarinho no Maracanã em 1950.

No Rio de Janeiro, o quase imbatível Flamengo, o mais querido, batendo o seu maior rival no Estádio Mario Filho- o Vasco da Gama. Em São Paulo, o time do menino Pelé e Coutinho fazendo misérias com os adversários: todas estas imagens vinham instantâneas como o click da Rolleiflex do fotógrafo.

Naquela cena de arquibancada e mesmo em pé atrás do gol estavam faltando muitos personagens: Coleguço, Sô Bernardo, Pimenta, Café Forte, Sô Vivi, pai do Badeco e Toni, Gentilão e Chico Rufino, pai do Setembrino, João Valério e Sô Argemiro!

Cumpadre era como chamavam Sô Argemiro, assim sendo ou não. Se bem que, tendo ele uns quinze filhos, bem que poderia ter uns vinte ou trinta afilhados. Os filhos homens tinham os cabelinhos de fogo, as meninas cabelos pretos como o azeviche. De tamanho o Sô Argemiro tinha metro e meio, ou um tiquinho mais. De bondade, pra mais de dois metros! Era um gigante... A todos nós tratava com carinho de pai.

Dos torcedores do Campestre o primeiro da lista. Além de torcedor, diretor. Além de diretor, provedor. Sim! Nas festas do time para comemorar títulos, Campeão, Campeão Invicto e supercampeão era seu Argemiro o provedor.

Lá estava o cabrito com aquele olhar de peixe morto, digo, de cabrito morto com a língua para fora como se estivesse tomando água. Dependurado pelas patas traseiras, degolado dois dias antes da festa, preparado e temperado com muita cebola, alho e alecrim, vinagre, orégano, pimenta do reino socada em pitadas generosas, da pimenta malagueta não descuidava... Inteiro ou em partes curtindo no gamelão de madeira.

Na hora da festa botava atenção especial nos jogadores não deixando ninguém sem um bom prato de farofa, arroz, salada e carne sobrando pros lados.

Ele era mesmo assim, para tratar os meninos e dar carinho... um exagerado!

As cenas se repetiam a cada jogo, a cada gol marcado ou sofrido, sua máxima expressão de alegria ou tristeza exclamava: “Nem burro, nem burro”, batendo as mãos espalmadas nas pernas. Eram cenas rotineiras, tal como Sô Bernardo, Coleguço e sô Vivi, que orientando e fazendo pose como se fossem chutar a bola, repetiam os gestos dos próprios jogadores. Ficar perto deles durante as partidas era arriscar tomar chutes e caneladas. Ao final dos jogos certamente estavam mais cansados que muitos jogadores, tal interagir.

Incansável mesmo era o Técnico Darci Franco que nunca demonstrava cansaço mesmo chegando duas horas antes da preliminar. Ele se dedicava a conferir a marcação do campo, estender a rede, verificar o material que o presidente Ze Moreira sempre trazia novo para inauguração. Em se tratando de uniformes, principalmente jogos de camisas, o Campestre sempre tinha três ou mais jogos. Eram camisas estilo do Botafogo, Santos e “Fluminense”, que eram as cores oficiais do Campestre, até mesmo do Vasco. Às vezes eram doadas pelos admiradores do time Campestre que, querendo ver o time com o uniforme dos times do coração no Rio ou São Paulo, agraciavam o Campestre.

Por motivo de doação, padrão de uniforme difícil de manter já que “cavalo dado não se olham os dentes”. Hoje em dia, ao olharmos as fotos antigas a cada torneio ou campeonato verificamos fotografias com cores as mais diversas principalmente nas nossas lembranças, pois, as retratadas foram em branco e preto ou preto e branco.

Mas, falando do Darci Franco, sempre foi comedido nos gestos e palavras. Mesmo quando se exaltava, gritar na beira do campo não era habitual. Sua maneira de ser como na própria vida, elegante e discreto; “só na competência se esbaldava”.

Tenho cá para mim que todos os comandados pelo Darci tinham a honra e a satisfação de ter jogado naquele time. De acordo com depoimentos os mais diversos, foi ao longo do tempo o melhor time de juvenil de Itabira. Afirmavam sempre o André D’ Caux, Senhor Manoel Vieira, Doutor Bráulio e o Pimenta dentre muitos outros. Os títulos da época e troféus confirmam o dito.

Parte da gloriosa história do Campestre pode ser contada em décadas, anos 60, anos 70 e 80 e assim por diante. De qualquer forma o Time Campestre, assim como o próprio bairro, não admite divisões: somos uno! Todas estas cenas vieram à mente nos primeiros cinco minutos no campo do Campestre, antes mesmo de começar a conversar com amigos que lá estavam para curtir a final do torneio de master cinqüentão. Eis uma feliz idéia do Miné e Dimão e a colaboração de muitos outros... Parabéns!

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CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 12/07/2009
Reeditado em 25/04/2010
Código do texto: T1695280