Borboleta Organoléptica III

Borboleta Organoléptica III

Por um mistério qualquer, vezes há em que meu rosto desdobra-se em estranheza. Há um fundo de sentimento que leva-me a fazer por onde não sou; a fingir pelo que não sinto. Um dia encontrei, foge-me a memória onde, uma moça em torno de si mesma. Havia algo que não era brindado pelo normal, e resolvi auscultar-lhe por isso. Talvez em tom sádico, ri palavras determinadas por beleza e serenidade. Havia algo de densamente recôndito ali. Fugiu-me, tudo isso, à primeira vista. Míope, um palmo de sentimento à frente era-me difícil de ver; mas haviam óculos. Carregado de mim, vi uma borboleta cruzar a imensidão. A exalar tristeza, derrubou, ela, um pouco de pó sobre os olhos da moça, e fugiu. Como que numa precipitação ardosa, manietada pelo destino, em silêncio, fugiu-lhe uma lágrima aos olhos; antes de a ver cair, porém, segurei-a nas mãos. Em meu sorriso não havia sadismo, entendi. Era apenas o palhaço que ri de quem lho descobre os segredos. Os belos e bem guardados segredos... A moça que vos falo ensinou-me algo, mas não o direi aqui. Esse papel me é pequeno; essas mãos estão cansadas; esses olhos, fatigados de somente enxergar o sentir. Por que não basta somente: basta sentir.