NO RITMO DA CHUVA
A chuva lá fora, caindo suave, marca o compasso dos pensamentos que permeiam minha alma incansável na busca de respostas para o presente e o futuro.
O passado escorre nas lâminas d’água que se formam sobre a superfície das ruas pavimentadas do tempo
Fragmentos de minha história insistem em prender-se nas frestas e sulcos da estrada abrasada pela ação das intempéries.
A chuva que cai lava o asfalto e os bueiros do esquecimento engolem os detritos de mil sentimentos.
Lá estou eu, encharcado pelas frias gotas que insistem em se precipitar sobre meu corpo imóvel.
Cada gota une-se à outra num batismo que, mais que ao corpo, envolve minha alma cansada e sedenta de vida em um doce refrigério.
Sinto-me como a desprender-me do corpo, baila minh’alma ao ritmo da chuva que me abraça e me abarca lavando-me de todos os ais.
Faço-me gota no meio da chuva ciente de que sou parte importante deste oceano cósmico que me cerca.
Viajo em fótons verdes de luz transpondo galáxias num átimo de instante.
Lá adiante varo as barreiras do tempo e do espaço e vejo meus eus em paralelos mundos criados pelas encruzilhadas de minha escolhas passadas, presentes e futuras.
Sou fragmento, gota de luz, partícula brilhante na imensidão do espaço-tempo a singrar por mares nunca dantes navegados.