Meu diploma de jornalista é apenas um pedaço de papel em um canudo de veludo decorado com fitas douradas, e daí!

“Não precisa mais de diploma para exercer a profissão de jornalista”. Muitos acharam um absurdo tal decisão do Supremo Tribunal Federal, no entanto, não vi nada de absurdo nisso. Há muito que a profissão de jornalista está, sem meias palavras, banalizada. O jornalismo se transformou em algo mecânico, os textos são condicionados por estruturas que visam passar o maior número de informações no menor espaço possível. Os telejornais e os rádios se preocupam prioritariamente com índices de audiência, e tudo está comprometido com interesses de conglomerados econômicos.

Não vejo como a não exigência do diploma de Jornalismo para exercer a profissão possa dificultar o campo de atuação do profissional formado. O mercado de trabalho da área é restrito e está saturado, jornalistas formados e com experiência trabalham por quantias menores que as estipuladas pelo piso salarial da classe, o sindicato dos jornalistas é fraco, para não dizer omisso. Os ramos da profissão que vêm oferecendo maior campo, melhores condições e salários são as chamadas “Assessorias de Imprensa” e os tão concorridos concursos públicos, que para estes, é exigido o diploma. Já quanto a Assessorias de Imprensa, as empresas exigem não só o diploma, mas ainda experiência. A grande mídia também busca, salvo exceções, pessoal formado e experiente.

A independência do diploma para exercer a profissão não enfraquece o Jornalismo, pelo contrário, a reforça: possibilita o reconhecimento profissional do jornalismo independente e regional, assegurando a divulgação de notícias de interesse público, a pluralização dos meios de comunicação e ainda tende a enriquecer a formação acadêmica na área.

Tomo como exemplo o impresso que você está lendo, a “Folha Areadense”, uma produção independente e regional, ferramenta essencial para o povo de Areado que oferece notícias críticas e denúncias além de abrir espaço para cidadãos expressarem opiniões em artigo ou fomentarem a literatura. Portanto, nada mais justo que os membros da equipe da Folha Areadense sejam todos reconhecidos como profissionais jornalistas, independente da formação de cada um. São atuantes na área e merecem reconhecimento e respeito como jornalistas, não só de órgãos governamentais como de toda a população.

O problema real da profissão está para além da questão, o problema está na concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos e na falta de oportunidade para se fazer o novo, para experimentar, para buscar novos caminhos.

Durante a maior parte do meu curso de Jornalismo participei de aulas de Geopolítica, Teoria da Comunicação, Sociologia, Filosofia, Antropologia e História da Arte onde aprendi que o modelo de jornalismo utilizado pela grande mídia deve ser repensado. Aprendi que a informação não pode ser refém de interesses econômicos, políticos ou publicitários. Já no restante do curso participei de aulas práticas em Televisão, Rádio e Redação Jornalística onde fui preparado para o mercado de trabalho, logo vivi uma dessas constantes contradições da vida. Eu e meus colegas nos vimos privados de experimentar o novo e em troca de notas e de nossos canudinhos de veludo enfeitados.

Sim! O Jornalismo não é como a Medicina, Engenharia, Advocacia. Enxergo o Jornalismo mais próximo da poesia, da música, da literatura, da arte em geral. Chico Buarque não precisou de diploma para ser reconhecido como músico, Machado de Assis também não precisou de um papelzinho autenticado escrito que ele é um escritor (ele nem se quer precisou de um diploma de ensino primário). Portinari não precisou ser formado em Artes Plásticas para ser o “Portinari”, e por aí vai. O Jornalismo possui uma essência mais acessível, contudo não menos importante e complexa. Hoje, nos países em conflitos, cidadãos comuns representam muito mais a essência do jornalismo que a grande mídia. Violentados por governos totalitários e opressivos o povo é quem tem mostrado ao mundo, através da internet, tudo que a grande mídia desses países tenta maquiar e esconder.

Um advogado pode ter sua coluna, escrever artigos e até mesmo matérias, pode atuar como jornalista, assim como um médico, um nutricionista, um psicólogo, um professor, uma doméstica, um agricultor, um lixeiro etc. E como é enriquecedor quando um espaço midiático é utilizado ou até mesmo criado por qualquer pessoa independente de formação acadêmica, isso é democratizar o acesso aos meios de comunicação, é reconhecer o Jornalismo Independente. O jornalista profissional não precisa de um pedaço de papel em um canudo de veludo com detalhes dourados, ele precisa é de senso crítico, de conhecimento, de vivência, de percepção, amor pela literatura, compromisso com a informação, inquietude, curiosidade e, sobretudo independência. Com esses quesitos a essência do Jornalismo pode apontar para novos horizontes.

***

plubicado pela "Folha Areadense"