Machado: O ofício. A promoção. A aposentadoria.
Revelou-se, translucidamente, uma frase a mim: “sem os cansaços do ofício, é certo, mas também sem as esperanças da promoção”. Cantava, Machado, o hino do aposentado.
Eu, em jovem, pouca atenção dei a isso (onde não vejo mal algum); em velho, todavia, enxergo-me dentro de tamanha visão interior, e sinto-me também. São os encantos da profissão adorada que um dia senti; que hoje me despeço. Ao ouvir o entoar do tom jovem que fui, vejo esperanças infundadas e desnecessárias: pouco importa a promoção que venha, é importante dar vazão ao simples cansaço do ofício que – não como hoje – era mera dissipação de amor pelo que se faz. Aposentado, sou a revelação pura da dialética de Machado de Assis: Não me há ofícios, nem há promoções a saber (nem mo poderia isso). Há uma saudade do gosto doce de se exercer o que se vive, e eu muito vivi.
OBS: Esse texto foi escrito por mim, apesar de não ter a idade que o texto mostra. Dirá alguém que uma gota de experiência vale mais que mil livros lidos, e eu concordarei. Como não sei a que mundo pertenço, nem a alma que carrego (quantas gotas de experiência já não vivi?), simplesmente escrevi o que a mim me veio, e é só.