Um poema sobre mim mesmo
“Há algo de dialético em mim que não encontra síntese” Tenório Valjean
Pudesse-me a vida ser um poema feito por mim mesmo. O papel, sem linhas, seria áspero como a madeira; seria frio, como a sequidão. Mas que diabos estou a falar, se justamente a única coisa que sei é ser doce às pessoas? Por ser uma dialética, quase sempre sou o que não sinto: sou um doce-amargo. Se pudesse-me, a vida, ser um poema sobre mim mesmo, falaria um pouco sobre um sonho que não tive – mas pretendo ter. Nele, dois eu’s estariam a correr de encontro um ao outro; de repente, encontram-se. Encontram-se, abraçam-se. Os dois seriam, ao mesmo tempo, eu. E esse eu me seria maior que a partição involuntária do meu coração vagante.