A Várzea de Ouro
A Várzea de Ouro
Eu, desde os meus oito anos, comecei a assistir aos jogos de futebol de várzea de Campinas. Todos os times eram amadores, bem como a A. A. Ponte Preta, o Guarani F. C., o Mogiana, o Campinas F. C., o Corinthians e o Guanabara. Estas equipes faziam parte da 1a divisão da Liga Campineira. O profissionalismo ainda não havia chegado ao interior.
A várzea dividia-se em várias chaves onde existiam grandes times em cada uma. Por exemplo, o Lápis Dois Martelos, o Cerone, o Paulista do Taquaral, o XV de Novembro, o Leônidas, o Comercial, o Rio Branco, e muitos outros que faziam o futebol de Campinas ser um celeiro de grandes jogadores.
Na chave que nos dizia mais respeito ficavam o Cantúsio, o Bonfim, o C. A. Jardim, o Vila Industrial, e o Velo.
Confiando em minha memória, pois não existe qualquer fonte na qual pudesse me basear para fazer esta pequena crônica, e também em depoimentos de muitos que ainda vivem e que jogaram ou mesmo assistiram a jogos daquela época, falarei sobre algumas dessas equipes.
Comecemos pelo Cantúsio que era o time mais próximo de minha casa. O Cantúsio F. C. era Verde e Branco e formava com: Armando Sansana, Toninho Pires e Angelim; Mário Goiaba, Tide e Lico Semedo; Inácio, Quinzinho, Barriga, Agostinho e Vicente. Depois vieram Vilela, Hugo, Juca, Pedro, Arsênio e outros.
O Cantúsio era quase imbatível jogando em seu campo. Basta lembrar que num Primeiro de maio, para comemorar o dia do Trabalhador, o Sr. José Cantúsio, presidente da agremiação, convidou o Canto do Ypiranga, de São Paulo, famosa equipe da várzea paulistana que naquela data veio ainda reforçada por dois jogadores profissionais do C. A. Ypiranga. Mas ao final da partida, o Cantúsio venceu por 4 x 0.
Até onde minha memória alcança, vou citar o C. A. Jardim, que era das imediações do hoje Teatro Castro Mendes, que também era verde e branco e formava com Belo, Alemão e Armando Pé de Ferro; Zico Violaro, Túlio e Dêga; Bimbo, Zé Maria, Batatinha, Gaiola e Mário Truzi.
Já o Bonfim F.C., que era grená formava com Joãozinho, Borracha e Padúla; Geraldo, Baianinho e Preá; Corote, Otávio, Minico, Faísca e Modesto.
Quando cruzavam Bonfim, Jardim e Cantúsio saia faísca pois os times se equivaliam tecnicamente.
Os árbitros daquele tempo, dos quais me lembro, eram o Peludo, o Caju ou o Antena, tidos como os melhores da Liga.
O segundão do Cantúsio era imbatível naquele tempo. Mesclado por alguns veteranos e muitos jovens, não perdia para qualquer time. Era formado assim: Moóca, Zéca Pires e Durval; Mário Pires, Nélson e Xarope; Angelim Mingoto, Arsênio, Menegetti, Zico e Santim Boscolo.
Foi uma grande fase do futebol varzeano de Campinas. Formaram-se grandes jogadores que eram aproveitados pelos times da 1a divisão da Liga Campineira, e iam até parar nos quadros de São Paulo. Porém, como o que se ganhava não era muito, vários preferiam ficar por aqui mesmo pois tinham um emprego seguro, e não arriscavam mudar de ares.