O amor nos tempos de gripe
O amor é afetado por alguma coisa? Eu diria que sim. Ele vai sendo corroído pelas as misérias que consomem o mundo. Desventuras estas que podem ser mentiras, descaso, esquecimentos e, principalmente, uma gripe. Narizes escorrendo, fungando e muitas tosses, catarros... Tudo isso pode ser um destruidor inexorável do tal amor....Se o tempo de validade está vencido... Nossa!!! Gripes e muita solidão é o que te resta... Que tema mais esquisito... Lembra-me o poema do Augusto dos Anjos: escarra nesta boca que te beija. Vou ter que apelar para o botão enrolação.com. Quando li este tema pela primeira vez também, pensei no filme: O amor nos tempos de cólera.
O tal filme mostra um amor que sobrevive ao período da cólera. Aqui em Porto Alegre, já é difícil um amor sobreviver com este frio horroroso. O banho se constitui numa guerra, o chuveiro não esquenta e tirar a roupa é um suplicio chinês( nem sei se existe). Dá uma vontade enlouquecida de virar Francês, se entupir de perfume e nunca tomar banho. Ou pelo menos até se transformar num aeroporto de moscas. Imaginem a situação: é inverno, um casal juntos há mais menos dez anos, dois filhos pequenos com rinite, sinusite, bronquite otite e outros ites que não conheço, os dois trabalham fora, não possuem empregada fixa, mal transam, alias, para eles, sexo é um artigo em extinção.
Então, ela fica gripada, e daí o tal amor sobreviverá? As românticas incuráveis me responderão, sim, ele sobrevive a tudo? Já eu, um desromantificada por natureza que adora um fingimento literário, diria: não. Até por que já estou ficando enojada de falar e ouvir falar em gripe A,B, C ou aquela dos suínos... Então misturar o amor com gripe é bastante duvidoso. Fico pensando naquela catarreira toda, muita tosse a noite inteira e de manhã, o amorzinho vira para o lado e dá de cara com aquele ser branco- esverdeado de olheiras cadavéricas, e pensa: ela está só com gripe ou já morreu?
Isa Piedras(8/07/2009)