Cachaça

Abro as torneiras do alambique e deixo escoar a cachaça, num gesto sem piedade, diante do olhar atônito daqueles que fazem do álcool o seu dia a dia! Abro as torneiras da maneira mais desavergonhada, sentindo um estranho prazer de ver aquela pinga escorrer e penetrar no solo já úmido da chuva. É possível que as minhocas e outros vermes que habitam as entranhas do solo possam divertir-se enlouquecidas com o efeito da bebida. Não me perguntem os motivos de ter destruído o trabalho das pessoas que plantaram e colheram a cana, que a moeram e extraíram do melaço o cristal líquido; devo ter sido injusto com tanto desperdício de forças e de tempo, talvez, quem sabe prejudicando o amor daqueles que bebem para esquecer? Abro as torneiras do alambique e deixo escorrer meus próprios desgostos numa demonstração de dogmatismo, negando a mensagem do pão e do vinho deixada por Cristo!

Abrantes Junior
Enviado por Abrantes Junior em 11/07/2009
Código do texto: T1693706
Classificação de conteúdo: seguro