CRÔNICA DE UM "FARMACÊUTICO" II: SEM MEIAS PALAVRAS

O curto tempo de treze anos trabalhando em farmácia/drogaria me trouxe grande aprendizagem. Por exemplo, se uma caixa de medicamento vem vinte drágeas significa que apenas três destes não resolvem o problema.

Certa vez um senhor muito simpático dirigiu-se à drogaria em que eu trabalhava e pediu um medicamento contra dores nas articulações. O “médico local”, conforme toda sua prática/experiência, “receitou” um determinado medicamento e o orientou a ingeri um comprimido a cada oito horas. Na hora do pagamento reclama das “dificulidades” financeiras e, chora-se um desconto. Concluída as negociações o paciente retorna ao lar para dar inicio ao tratamento.

No dia seguinte esse simpático senhor retorna à loja/consultório e diz que o remédio é, em suas palavras, “uma porcaria, não resolveu nada”. O “médico/farmacêutico” com muita paciência pergunta: “o senhor tomou quantos comprimidos?” ao qual respondeu: “três”. O “doutor” não poupou o fôlego e disse: “pois é se apenas três comprimidos resolvessem a caixa não viria com vinte”. Sem contra-argumento o senhor retorna para casa para continuar o tratamento. Que segundo ele mesmo, foi um sucesso.

Certa feita, uma dona liga para a drogaria e o “farmacêutico” atende ao telefone dizendo: “Rede BigFarma, farmácia drogadaboa*, Gilberto* falando, bom dia, em que posso ajudar”. E ela do outro lado pergunta: “qual o número do telefone daí?” – a resposta veio-a-cavalo, de ferraduras novas, diga-se de passagem, “o mesmo que a senhora discou!”.

Em outra oportunidade entra um senhor e pede para “medir” sua pressão. O “farmacêutico” boa-praça, para puxar um bom papo e ganhar este freguês, pergunta:

- O senhor tem algum problema de pressão?

- Não, vou fazer ponte-de-safena e o médico me pediu para conferir a pressão todos os dias. – respondeu.

- Ah, ponte-de-safena?! Meu avô também fez esta cirurgia!

- Ah é?! E como ele está? – perguntou o paciente.

- Ele morreu. – disse o desavisado.

Percebendo o semblante do futuro defunto, diz:

- Mas morreu de outra coisa!

- Obrigado. – respondeu o moribundo preparando, mentalmente, seu velório.

Pois é, quando você for a alguma drogaria pense bem o que você vai perguntar para não ser surpreendido com algumas dessas respostas, pois com todos os estresses do dia-a-dia as conversas costumam ser sem meias palavras.

Ps.: o avô do desavisado faleceu de câncer, informação que omitiu para o cliente.

* nome fictício.